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O Brasil não é um banco

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Desde que Ronald Reagan afirmou que “o Estado deixou de ser solução para ser problema” as elites que seguiram essa afirmação  não souberam muito bem o que fazer com o Estado. Tinham claro que o eixo estratégico se deslocava do Estado para o mercado. 

 Seria necessário então promover o Estado mínimo e, de forma correlata, a centralidade do mercado. Surgiu, paralelamente, o resgate da empresa como elemento dinâmico da economia, em contraposição ao Estado, que passou a ser desqualificado como burocrático, ineficiente, corrupto. E os empresários, qualificados como os agentes dinâmicos da economia. 

Então por que não entregar a direção do Estado nas mãos de empresários? Se eles são capazes de administrar de forma muito eficiente suas empresas, farão o mesmo com o Estado, para o bem de todos. Não gastarão mais do que é arrecadado. Não gastarão dinheiro no que não dá retorno. Saberão racionalizar os gastos, saberão cortar o pessoal desnecessário. Em suma, seria o melhor dos mundos possíveis. 

As experiências mais conhecidas não deram certo: Berlusconi na Itália e Piñera no Chile. Atuaram com a lógica privada, buscaram reduzir o tamanho do Estado às suas mínimas proporções, diminuíram drasticamente o número de servidores públicos, buscaram atender as demandas do mercado e desfazer-se do que consideravam inútil. Agiram com a lógica privada no seio do Estado.

Deram errado justamente por isso. A empresa privada e o Estado têm finalidades distintas. A empresa privada busca a maximização dos lucros. O Estado deveria atuar pelo bem de todos. Aquela atua com a lógica do custo-benefício. Este deveria atuar conforme as necessidades dos cidadãos. À empresa privada interessam os consumidores e o seu poder de compra. Ao Estado deveriam interessar os cidadãos e os seus direitos. 

Os tempos correram e agora temos banqueiros dirigindo as economias de países como o Brasil e a Argentina. Têm dupla jornada: de manhã trabalham nos seus bancos, à tarde, no Bancos Centrais e em outros órgãos do governo. 

Se era absurdo confundir o funcionamento de uma empresa privada como a de meios de comunicação do Berlusconi e a de aviação comercial do Piñera – entre outros que seus grupos possuem -, imaginar que a lógica de um banco privado possa se impor como orientação de governos já é um desvario. 

Até porque os bancos, nos tempos atuais, mudaram de caráter. O capital financeiro, que historicamente tinha sido um suporte do capital produtivo, se autonomizou e se tornou o eixo da economia, um fim em si mesmo. Um capital financeiro que assumiu o caráter especulativo, que vive da compra e venda de papeis. No final de cada dia, quando se anunciam as cifras astronômicas de movimento das Bolsas de Valores, não se produziram nem um bem, nem um emprego. Foi pura circulação de papeis de forma absolutamente improdutiva para a economia. 

E é essa lógica que se impõe a governos dirigidos por banqueiros e que atendem aos interesses do capital financeiro. Querem estreitar o país ao tamanho do mercado e do mercado financeiro, em particular. Praticam uma política de sistemática exclusão social e de concentração de renda nas mãos dos rentistas. 

Um país não é um banco e não pode ser governado como se fosse um banco. A economia não cresce porque os recursos estão na especulação, como os imensos lucros dos bancos o confirmam. Não se criam empregos, não se atendem as necessidades sociais do país, o Estado não assume suas responsabilidades           

O Brasil é muito maior do que uma empresa ou um  banco. Ao banco interessam os acionistas. Um país tem que ser governado para todos, para os cidadãos - os sujeitos de direitos.

* SOCIÓLOGO