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Marielle, presente!

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Mataram uma vereadora no Rio. Ela poderia ter sido eleita com seu voto. Eu não votei nela, sequer acompanhava sua luta em defesa de minorias, mas respeito profundamente todos os seus eleitores. Ela era uma representante do poder legislativo municipal, uma das cinco mais votadas nas eleições passadas. A vereadora Marielle Franco, do PSOL, de 38 anos, foi executada a tiros com o homem que dirigia o carro na noite desta quarta-feira, na Rua Joaquim Palhares, perto da Praça da Bandeira, a cerca de três quilômetros da sede do Comando Militar do Leste, onde fica o general Braga Neto, interventor federal na segurança do Rio desde o dia 16 de fevereiro deste ano. Esse crime brutal e covarde é um desafio à intervenção federal no Rio. 

O assassinato de vereadora não pode ficar impune. É uma questão de honra para a intervenção federal. Nada é mais urgente agora do que a resposta que a Polícia Civil precisa dar contra essa execução covarde da vereadora. 

Na véspera de sua morte, a vereadora havia publicado em sua página no Facebook denúncia contra a violência de policiais do 41º BPM (Acari), que vinham ameaçando e aterrorizando moradores daquela favela na Zona Norte da cidade. Ela escreveu em seu Facebook: “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”. 

É claro que não se pode generalizar. Em toda unidade policial, há agentes honestos e preservadores das leis. Mas o protesto de Marielle contra a ação nefasta de alguns policiais deve ser levado em conta pela apuração policial. Quem não lembra que o antigo batalhão de Rocha Miranda foi o celeiro de matadores de chacinas como a de Acari (em que 11 jovens desapareceram em 1990) e de Vigário Geral (em que foram mortas 21 pessoas em 1993)? De onde vieram os policiais do novo batalhão de Acari? 

É óbvio que os tiros que mataram Marielle e seu motorista foram disparados também contra cada um de seus eleitores e pra tentar calar aqueles denunciam a violência dos covardes. Os líderes do PSOL não querem, com razão, se antecipar e aguardam as investigações, que precisam ser rápidas e eficientes para dar uma resposta ao crime organizado, seja a origem que tiver. 

A necessidade de uma resposta rápida das autoridades é questão de sobrevivência da própria intervenção. Os militares não vão querer sair desmoralizados do Rio. A importância de a polícia dar prioridade à investigação desse crime não é de forma alguma pelo fato de a vereadora ser melhor do que qualquer outra vítima de homicídio. Pelo contrário. Ela parecia ser uma mulher simples, nascida na favela da Maré. Outros assassinatos também clamam por Justiça. 

O que a sociedade precisa entender é que os limites tornam-se ainda mais frágeis, diante do assassinato de parlamentares, magistrados, jornalistas, e outros representantes da própria sociedade. Eles são porta-vozes de segmentos sociais, movimentos da cidadania. Calar essas vozes é também calar um pouco cada um de nós.

*Diretor do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, fundador da Abraji, jornalista com larga passagem no JORNAL DO BRASIL e O Globo.