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Fim da transição de governo

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O governo de Itamar Franco (92-95) é festejado como um tempo de transição tranquilo, da vitória contra a hiperinflação e da entrega do poder a um correligionário devidamente eleito. É verdade. Mas poucos se lembram de que antes de Fernando Henrique Cardoso assumir (contra sua vontade) o Ministério da Fazenda, três outros nomes já haviam passado por ali, sem sucesso: Gustavo Krauze, Paulo Haddad e Elizeu Resende não conseguiram deter a velocidade de reajuste de preços, em níveis absurdos, que ocorria no Brasil daquela época. 

Depois do Plano Real vieram outros ministros da Fazenda: Rubens Ricúpero, Ciro Gomes e Pedro Malan. Nada foi fácil. Ricúpero caiu porque falou demais. Ciro Gomes praticou sua tradicional artilharia verbal, reduziu impostos de 445 produtos importados e abriu guerra contra os donos de indústria. Pedro Malan concluiu o período com discrição. 

Itamar Franco foi um político mercurial. Tinha reações extremas, mas permitiu ser fotografado ao lado de uma atriz sem roupas de baixo, durante o Carnaval de 1994, no Rio de Janeiro. Uma bagunça. 

O governo Itamar Franco passou para a história como período de transição que alcançou resultados. Do mesmo ponto de vista, o governo Michel Temer realizou uma transição segura depois do desastre promovido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ele encaminhou a solução para o descalabro das contas públicas, reduziu a inflação a níveis mínimos, conseguiu expressivos resultados positivos no balanço comercial. Tirou o país da recessão e o colocou no caminho da recuperação. 

O governo Temer, contudo, terminou. Antes do tempo. A convulsão proporcionada pela prisão do ex-presidente Lula não foi tão grande a ponto de paralisar o país. Mas criou problemas na área da política. Desapareceu a principal referência da chamada esquerda, embora estivesse aliada ao grande capital. Lula preso não poderá percorrer o país nas suas caravanas que ora são festejadas, ora são apedrejadas. E os escândalos financeiros se sucedem numa rotina previsível. A cada semana surge nova denúncia e uma vestal desaparece na multidão. Outra reputação se dissolve. Os amigos de Temer estão no corredor das execuções penais. O processo será demorado porque a Justiça no Brasil é lenta. Mas os efeitos já incomodam o presidente. Ele perdeu, por força das eleições, boa parte de seu ministério. Tentou manter a correlação de forças, mas diante das eleições nenhum político é fiel. Ao candidato interessa apenas a própria reeleição. 

O governo não está em condições de enfrentar nem marolas de médio porte. Mas depois da Cúpula das Américas, em Lima, o presidente brasileiro receberá formalmente, em maio, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. É final feliz de uma transição complicada e tumultuada. É tempo de pensar no futuro, que também não deverá ser tranquilo para o presidente Michel Temer. 

No entanto, o governo precisa estar de pé até o último dia de dezembro deste ano. Será difícil, com um ministério de segunda linha, pouca ação congressual, porque a partir de maio os parlamentares estarão preocupados em formar as chapas em que vão concorrer. Depois de junho, começa a campanha disfarçada e em agosto, o movimento atinge o seu ápice. Ciro Gomes, com sua tradicional verborragia, caminha para assumir a candidatura de esquerda, embora ele não tenha cacoete de esquerdista. Ele começou sua vida pública na juventude da Arena, no interior de São Paulo, onde nasceu. 

O candidato de centro ainda está bem indefinido. O ex-governador Geraldo Alckmin se desenrolou das denúncias em São Paulo. Meirelles terá que responder sobre o que fazia administrando os bens dos irmãos Friboi e Rodrigo Maia precisa correr em busca de votos que o consagrem. Tudo muito nublado. A única certeza, neste mar de indefinições, é de que o governo Temer acabou. 

* Jornalista