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Participação social e renovação política no Rio

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O desfile da Paraíso do Tuiuti, durante o carnaval de 2018, foi o abre-alas para um ano que já nasceu histórico. Uma síntese plástica dos 130 anos da abolição, partindo de nossa herança escravagista e autoritária, passando pelas diversas formas de submissão e de resistência dos negros ao longo do século 20 até chegar ao “impeachment” de 2016. Uma obra-prima da cultura popular brasileira. Ela reforçou a importância da luta por igualdade racial e a necessidade de novas lideranças políticas que trabalhem por justiça social no Brasil. Mas o que ninguém imaginaria é que, antes do desfile das campeãs, menos de uma semana depois daquela histórica apresentação, o Rio enfrentaria uma intervenção federal, fruto de uma manobra do governo Temer diante do vácuo de liderança política no estado. 

O vácuo de liderança no Rio vem aumentando nos últimos anos. De um lado, crise fiscal, econômica e política do estado reduziram a pó o capital político do governador Pezão. De outro, o prefeito Marcelo Crivella poderia assumir maior protagonismo na coordenação de uma agenda positiva, com planejamento, transparência e participação social, mas o Plano Estratégico da Prefeitura (2017-2020) sequer foi finalizado. A intervenção federal no Rio é o símbolo de nossa incapacidade coletiva de produzir soluções para nossos próprios problemas. Foi em meio ao vazio e às incertezas sobre os rumos da intervenção que a vereadora Marielle Franco foi brutalmente assassinada. Marielle representava a renovação e a diversidade política que nosso país precisa: mulher, negra, favelada e bissexual. O impacto de sua morte possui múltiplas consequências, uma delas é o medo com o qual as jovens lideranças populares passaram a conviver na sua atuação política. 

Diante dessa conjuntura complexa é que precisam emergir movimentos cidadãos e suprapartidários, com capacidade de aglutinar diversos setores da sociedade em torno do debate democrático e plural sobre o desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). Nesse contexto, a Casa Fluminense, a Fundação Cidadania Inteligente e um conjunto de organizações da sociedade civil estão organizando o movimento “Rio por Inteiro” para atuação nas eleições de 2018. Entre as ações previstas, haverá a utilização da “Plataforma Vota Inteligente”, que foi usada nas eleições nacionais do Chile em 2017 e teve 2 milhões de acessos. No Rio, a plataforma será lançada em junho e as organizações da sociedade civil terão até o dia 15 de agosto para apresentar propostas. 

Um calendário de mobilização será aberto à colaboração de todos que quiserem participar da iniciativa. Cidadãos e organizações poderão inscrever atividades como debates temáticos, mobilizações nos territórios da periferia do Rio, oficinas de propostas, entre outros. A combinação entre os encontros presenciais e a plataforma digital pode criar um ambiente favorável à construção de consensos em torno de algumas prioridades na metrópole fluminense. A partir do dia 16 de agosto, quando começa oficialmente a campanha, os candidatos a governador, senador, deputado estadual e federal poderão se comprometer publicamente com as propostas da sociedade civil. O lastro do movimento “Rio por Inteiro” pode ser uma das bases de diálogo entre os novos parlamentares eleitos e os cidadãos. 

A sociedade civil precisa fortalecer sua atuação na defesa e no monitoramento de políticas públicas capazes de reduzir desigualdades e ampliar oportunidades. Em paralelo, as tradicionais forças políticas que comandaram o estado nos últimos anos estão se reagrupando, e a sociedade deve atuar para que novas candidaturas, com pessoas íntegras e éticas, sejam competitivas e capazes de furar a bolha da representação política. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) possui 70 cadeiras. Quantas dessas vagas serão ocupadas por mandatos de jovens, de mulheres, de negros, de LGBTs? Qual será o impacto dos novos movimentos no parlamento fluminense? Nesse cenário, o movimento “Rio por Inteiro” busca se articular com iniciativas que visem ampliar a participação social e a renovação política, pois será na convergência entre ambos que poderá surgir alguma novidade no vácuo de liderança vivenciado pelo Rio. 

* Coordenador-executivo da Casa Fluminense