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Brasil e Suíça: muito além das primeiras impressões

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Ao pensar na Suíça, o que vem à cabeça do brasileiro? Talvez as primeiras associações sejam chocolates, queijos ou relógios, produtos que fazem a Suíça conhecida no mundo inteiro. Mas pode haver também lembranças controversas, como contas bancárias utilizadas em casos de corrupção. De uma forma ou de outra, as relações entre os dois países são mais ricas e complexas do que podem parecer à primeira vista, e a celebração do bicentenário da imigração suíça no Brasil, comemorado neste 2018, é uma excelente oportunidade para aprendermos mais sobre essa trajetória e novas perspectivas. 

Há 200 anos, cerca de 2 mil suíços cruzaram o Atlântico para fazer história. Fugiam de uma grave crise econômica na Europa que espalhava desemprego e fome. Após meses de viagem turbulenta, chegaram à Região Serrana do Rio e fundaram a primeira implantação de europeus não portugueses no Brasil, Nova Friburgo, cidade agora aniversariante. A partir de então, muitas outras levas de suíços apostaram no “sonho brasileiro”, e cidades do Oeste Paulista, de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Bahia, aos poucos, foram ganhando também características de seus novos migrantes. Atualmente, cerca de 15 mil suíços moram no Brasil e 20 mil brasileiros escolheram a Suíça para viver.

Nos últimos 200 anos, as relações entre os dois países só se fortaleceram. O Brasil é, hoje, o maior parceiro comercial da Suíça na América Latina, com um volume de negócios entre as duas economias girando em torno de R$ 12 bilhões. Após um período recente de baixa nas trocas comerciais, o ano de 2017 apontou para uma retomada. Produtos da indústria farmacêutica e da indústria química estão no topo das exportações suíças para o Brasil, enquanto metais e pedras preciosas e produtos agrícolas são os produtos brasileiros mais frequentemente importados pela Suíça. Cerca de 370 empresas suíças atuam no Brasil e geram mais de 62 mil empregos diretos. 

Um cenário que pode se tornar ainda melhor após a assinatura de um acordo de livre comércio entre a Associação Europeia de Livre Comércio e o Mercosul. Neste mês de maio, o conselheiro federal da Suíça, o ministro de Estado Schneider-Ammann, visitou o Brasil e as negociações avançaram. Ainda no campo da economia, cabe destacar um acordo recentemente firmado que vai acabar com a bitributação de empresas suíças e brasileiras. 

Há boas notícias, também, no campo da cooperação em investigações de casos de corrupção. Há quatro anos, o Ministério Público suíço iniciou força-tarefa para apurar crimes relacionados à Operação Lava Jato. De lá para cá, R$ 3,5 bilhões depositados em contas suíças foram bloqueados; desse montante, R$ 700 milhões já foram devolvidos ao Brasil. O Escritório do Procurador-Geral da Suíça reafirmou que “é de especial preocupação que a Suíça repatrie ativos congelados a seus donos de direito”. 

Nesse balanço, não podemos deixar de incluir as áreas de ciência e tecnologia. A Suíça é o país que lidera o ranking mundial da inovação e tem todo interesse em ampliar suas trocas com instituições brasileiras. Para isso, um Plano de Ações entre os governos foi assinado, garantindo para os próximos anos apoio a programas de pesquisa, intercâmbio de estudantes e cientistas e ações conjuntas com órgãos como CNPq e EMBRAPII. 

Como sabemos, a migração suíça para o Brasil não é tão conhecida ou celebrada como a de outros países europeus, mas, neste aniversário de 200 anos, temos a grande chance de revisitar essas memórias e conquistas. Certamente vamos descobrir que construímos relações sólidas e profícuas e que as colaborações mútuas vão muito além das nossas primeiras impressões. Nós, na Suíça, estamos prontos e entusiasmados para escrever as próximas páginas dessa história.

* Embaixador da Suíça no Brasil