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Sempre aos domingos - Etiqueta no caos: como exercitar empatia e educação

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Conversando com o querido amigo – e ator e produtor e roteirista e cantor, ufa! – Aloisio de Abreu, chegamos à conclusão de que vivemos tempos de umbiguismo radical e egos tão inchados que transformaram os brasileiros em uma gente incapaz dos menores gestos de gentileza, consideração e respeito pelo outro (no Rio de Janeiro, então...). A polarização, pelo visto, não é só política. É existencial mesmo. Sou eu, eu, eu e dane-se o outro, o que torna a vida de todo mundo mais infernal e desesperadora. Diante dessa realidade nacional feroz, começamos a burilar, com sugestões do ator Leonardo Netto, o que eu posso chamar de tutorial de Etiqueta no Caos, um conjunto de regras que parecem óbvias, mas que a educação permissiva e criadora de príncipes e princesas atual parece incapaz de dar conta. Vamos nessa: 

1. Transporte público em geral: só esse item merece um livro. Então seguimos por partes. Antes de todo mundo estar devidamente embarcado, especialmente em ônibus intermunicipal (em avião também acontece), não deite o banco. Isso transforma a vida do passageiro atrás de você num inferno para el@ se acomodar e às bagagens. No avião, o fato de você não querer despachar bagagens porque isso gasta tempo ou dinheiro não o qualifica a levar 40 bagagens de mão. Se você coloca 40 sacolas no bagageiro, outros não terão espaço para acomodar seus pertences. Não seja essa pessoa. Especialmente em aviões, cuidado com a poltrona da frente. Não é fofo seu filho ficar chutando a poltrona ou brincando com a mesinha porque isso incomoda quem senta na frente. E nas viagens noturnas e diurnas muito longas, nunca, em hipótese alguma – a menos que você seja um operador de mercado financeiro comprando ou vendendo ações em Hong Kong – fale alto ao celular (ou ouça vídeos treteiros no Whastapp sem fone de ouvido). As pessoas estão cansadas, cada um trava suas próprias guerras, outras estão concentradas lendo ou resolvendo coisas no Whatsapp e a última coisa que elas precisam é ouvir fofocas gritadas sobre sua família ou seu trabalho ao telefone às 22h subindo a serra de Teresópolis. E não, não leve comida no transporte empesteando todo o ônibus ou avião com cheiro de galinha assada de padaria. Biscoitos existem para isso. 

2. Aula de física em elevadores e vagões de trem ou metrô: como dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, é preciso que se espere quem está dentro sair para que você tentar entrar. Simples assim. E outra coisa: o vagão para mulheres é isso que está escrito: PARA MULHERES. Se você é homem cis ou trans, não seja essa pessoa detestável e tarada. 

3. Entendendo a escada rolante: ocupem o lado direito e deixem o esquerdo para quem está com pressa. Isso vale para casais apaixonados de mãos dadas ou crianças também. De muros, já bastam os do Trump. 

4.No supermercado: por que há pessoas que passam as compras e obrigam a gente a esperá-las “ir ali rapidinho pegar 300g de presunto, um xampu e duas frutas”? Sem falar que o “rapidinho” dura horas e a fila fica ali, parada, esperando o príncipe ou a princesa voltar. Outra coisa: a estratégia de você ficar numa fila com uma cestinha de compras e seu acompanhante na outra com o carrinho cheio para “ver qual fila anda mais rápido” merece um paredão russo. Não há nada mais frustrante do que você escolher justamente a pessoa que tem pouca compra achando que será mais rápido ali para perceber que, quando ela chega no caixa, aparece o acompanhante com um carrinho lotado. Isso é desonesto. E caixa rápido é o que o nome diz: rápido. No máximo, dez itens. Matemática e interpretação de texto no ensino fundamental. 

5. Cinemas, teatros e outros espaços culturais: não, não mexa no celular sequer para conferir se chegou aquela mensagem importante. Se é tão importante, não faça nada a não ser esperar a mensagem. Não fale ao telefone, bote no silencioso e se alguém está doente na família ou o filho na balada, não saia de casa. Por fim: chegue na hora. Isso vale para quem está no palco também. 

6. Banheiros de uso público ou misto: nunca consegui entender a dificuldade que homens em geral possuem para acertar aquele buraco e-n-o-r-m-e da privada. Nunca consegui. E o papel higiênico é na lixeira. Fico imaginando como deve ser o banheiro da casa dessa gente. Não seja porco. 

7.No restaurante com filhos: aquilo é um restaurante, não o playground. Crianças correndo e gritando em restaurantes não é fofo. Repita mil vezes. Ah, mas é criança. Sim, é criança mal-educada. 

8. Caixas de um modo geral: se você quer desabafar, vá a um analista. 

9.Por fim: bom dia, boa tarde, boa noite. Sempre. São cumprimentos e uma forma simpática de desejar o bem para outra pessoa, de preferência acompanhado de um sorriso. Faça. Você vai ver que é mágico e transformador. É a tal coisa: não adianta fazer meditação, yoga e ir à igreja se você não dá bom dia ao porteiro ou à recepcionista. #nãosejaessapessoa.