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Onda mundial: por que é um erro subestimar a extrema-direita

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No dia 9 de junho de 2016, a ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von Der Leyen, descreveu o resultado das eleições norte-americanas, divulgado horas antes, como “um grande choque”. Mas não foi apenas entre os germânicos que o resultado repercutiu: o ex-mandatário uruguaio Pepe Mujica, o astro britânico Mick Jagger e até o cantor brasileiro Caetano Veloso se disseram surpresos com a eleição de Donald Trump. Ainda naquele mês, o mundo ficou novamente atônito com um outro resultado inesperado: a campanha “leave” do Brexit. Na sequência tivemos a vitória de extremistas na Áustria, Hungria, no parlamento alemão e holandês, e, então, esse tipo de manchete parou de chocar.  Está claro que o mundo flerta com o conservadorismo, e ignorar isso pode ser um erro fatal.

No Brasil, a extrema-direita tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. Mesmo utilizando-se de um discurso antiquado e preconceituoso, o pré-candidato pelo PSL, que já ocupava, com certa folga, a segunda colocação, iniciou uma sensível (e preocupante) melhora nas pesquisas de intenção de voto, a 4 meses da eleição. Segundo a última pesquisa divulgada pelo Datafolha, ele já lidera a corrida presidencial na pesquisa espontânea, e na provocada fica atrás apenas de Lula, que tem sua participação no pleito seriamente ameaçada.  Mesmo assim, parte da opinião pública, incluindo os partidos de esquerda, parece não se preocupar, contando com uma queda “natural” do candidato.

Esse declínio ocorreria porque o establishment brasileiro, incompatível com o discurso extremado, investiria forte contra sua candidatura. Seguindo esse roteiro, Bolsonaro deveria perder capital político a cada ataque da grande mídia ou representantes do mercado. Mas esse roteiro possui alguns furos que podem inviabilizar sua concretização. Bolsonaro possui um eleitorado extremamente fiel e influência nas redes sociais. Ademais, os candidatos do establishment, Alckmin e Meirelles, não decolaram e não possuem tanta expectativa de crescimento. O jogo da política é dinâmico e sujeito a guinadas.

De acordo com as pesquisas, entre 15% e 17%  do eleitorado brasileiro se mantêm fiéis a Bolsonaro. Nas últimas eleições que tivemos um número tão grande de candidatos, em 1989, 18% dos votos foram suficientes para levar o segundo candidato mais votado (Lula) ao segundo turno. Nem a polêmica utilização do auxílio-moradia, uma condenação por incentivo ao estupro e a fuga dos debates e sabatinas provocaram perda de eleitores.  O pré-candidato mais popular na internet parece ter o antídoto certo para os ataques: 7 milhões de seguidores nas redes sociais – são 5,3 milhões apenas no Facebook. Não é de hoje que as mídias sociais têm desempenhado um fator decisivo em eleições no mundo todo.

Bolsonaro representa o que de pior existe na política: a homofobia, o machismo, a xenofobia, o populismo e a ineficiência pública. E é justamente por isso que ele não pode ser subestimado. Afinal, discursos semelhantes têm acumulado vitórias em uma bizarra onda mundial conservadora.  Com uma esquerda – dividida pela própria natureza –   perseguida por instituições e com uma direita moderada em frangalhos pelo desempenho pífio do atual governo, é preciso combater, agora, o risco iminente do fascismo.  Ou depois de outubro não adianta falar que está chocado com o resultado.

* Jornalista, publicitário e especialista em Direito Público