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Academia Nacional de Medicina promove Jornada sobre Cirurgia das Metástases

Projeto tem como objetivo apresentar o estado da arte da cirurgia em diversos campos

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A primeira Jornada de Cirurgia de 2017, na Academia Nacional de Medicina, foi dedicada à Cirurgia das Metástases. O projeto, idealizado pelo Acadêmico José de Jesus Peixoto Camargo e encampado pelo Presidente Francisco Sampaio, tem como objetivo apresentar o estado da arte da cirurgia em diversos campos. A Jornada, realizada no Anfiteatro Miguel Couto, contou com a presença de Acadêmicos, estudantes, residentes e profissionais da área da Saúde.

A primeira apresentação foi realizada pelo Dr. Giovani Guido Cerri (USP), que discorreu sobre “A Contribuição da Imagética na Avaliação das Metástases”, apresentando os aspectos radiológicos de diversos tipos de metástase, dando destaque para as metástases abdominais. Sobre estas, avaliou que o padrão radiológico é muito amplo, e que não existe um único método a ser utilizado. A região é caracterizada por apresentar vísceras ocas, sólidas e grande quantidade de partes moles, o que facilita o aparecimento de lesões metastáticas em órgãos como fígado, pâncreas, baço, rins e alças intestinais.

Apontou a imagética molecular como uma das grandes revoluções da área, possibilitando caracterizar e quantificar de processos biológicos normais ou patológicos em nível celular e molecular. Destacou que uma das maiores vantagens da utilização destes métodos é a detecção precoce de alterações teciduais e a possibilidade da implantação de uma medicina personalizada, além do desenvolvimento de novas drogas.

Com palestra intitulada “Metástases Hepáticas”, o Dr. Marcelo Enne (Hospital Federal de Ipanema) iniciou sua apresentação afirmando que o fígado é o órgão que mais comumente desenvolve metástase, tendo como o câncer colorretal seu principal ponto de origem. A respeito dos procedimentos cirúrgicos, lembrou que o objetivo dos cirurgiões é realizar a hepatectomia sempre que possível, principalmente devido aos bons marcadores de sobrevida dos pacientes.

Na conclusão de sua conferência, ressaltou que contraindicações antes consideradas “absolutas” para a ressecção de tumores hoje já caíram em desuso, transformando pacientes inicialmente “irressecáveis” em ressecáveis e conferindo-lhes uma boa sobrevida a longo prazo. Chamou atenção para o fato de que os avanços hoje observados na área só foram possíveis devido ao desenvolvimento paralelo da quimioterapia sistêmica e à atuação de equipes multidisciplinares no tratamento dos pacientes.

Na sequência, foi a vez do Acadêmico Paulo Niemeyer Filho fazer sua exposição a respeito de “Metástases Cerebrais”, que salientou que a dificuldade em este tipo de procedimento se refere à elegibilidade dos pacientes, uma vez que a evolução das técnicas cirúrgicas possibilitou que os médicos estejam aptos a fazer ressecções em todas as áreas do cérebro, afirmando que não existem mais “áreas proibidas”. Mostrando a evolução dos pacientes, relatou que a cirurgia é o único procedimento capaz de aliviar os sintomas, reduzir o edema, suspender o uso de corticoides e fornecer um diagnóstico preciso por meio dos exames histopatológicos.

Em conclusão, demonstrou que a maioria das estatísticas de sobrevida dos pacientes não leva em consideração a qualidade de vida - técnicas como a radioterapia de crânio inteiro, que podem parecer positivas do ponto de vista da sobrevida, possuem um alto risco de complicações, além de oferecerem uma perspectiva de baixa qualidade de vida, devendo ser substituídas (salvo casos específicos) por técnicas como a cirurgia e a radiocirurgia.

Dando continuidade às apresentações, o Acadêmico José Camargo abordou “Metástases Pulmonares”, afirmando que estas representam no máximo 10% dos nódulos pulmonares isolados e, em 90% dos casos, há antecedente de neoplasia. Debatendo os critérios para a indicação cirúrgica para metástase pulmonar, apontou algumas questões importantes como a origem do tumor primário, doença primária controlada ou controlável, possibilidade de ressecção completa e a não existência de outras alternativas terapêuticas, uma vez que a qualificação da terapia sistêmica tornou a cirurgia cada vez mais adjuvante.

Finalmente, relatou que pacientes com metástase única em geral apresentam uma sobrevida em 5 anos de 43%, comparados a 34% com duas ou três metástases, e 27% com quatro ou mais metástases. A respeito de estudos a respeito da sobrevida dos pacientes com metástases de pulmão comparados àqueles com tumores primários, afirmou que em todos os grandes centros oncológicos que compararam essas experiências, os índices de cura sempre foram favoráveis ao grupo das metástases – diferença essa que vem se acentuando ao longo dos anos.

Os trabalhos do Simpósio foram encerrados com a conferência do Acadêmico Daniel Tabak, com o título de “Tratamento Personalizado no Câncer Metastático: Realidade ou Ficção em 2017?”. O Acadêmico instigou a plateia presente com dados a respeito da chamada Terapia Molecular, que tem o foco de combater as moléculas específicas, direcionando a ação de medicamentos, exclusivamente ou quase exclusivamente, às células tumorais, reduzindo assim, suas atividades sobre as células saudáveis e os efeitos colaterais.Nessa modalidade, o foco é encontrar a origem das mutações por meio do sequenciamento genômico e da identificação de drogas inibidoras dessas mutações.

Ao término de sua exposição, ressaltou que apesar de apresentar resultados promissores e até mesmo “excepcionais”, algumas perguntas ainda seguem sem resposta, como os efeitos colaterais, o efeito sobre a qualidade de vida do paciente e o custeamento dos testes e desses tratamentos.