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'Deutsche Welle': O misterioso fascínio do Brasil pela Coréia do Norte

Brasileiros lideram ranking de buscas no Google sobre país asiático

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Matéria publicada nesta quarta-feira (13) pelo jornal alemão Deutsche Welle observa que as manchetes que costumam atrair a atenção dos brasileiros falam sobre escândalos de corrupção, atos de violência urbana e resultados de futebol. Mas, no momento, há um tópico de interesse inesperadamente alto: Coréia do Norte.

Segundo a reportagem uma vez que o regime mais comunista do mundo tem causado alvoroço com o seu contínuo teste de armas nucleares, os brasileiros estão entre as pessoas que fazem a maioria das buscas do Google para obter informações sobre a Coréia do Norte.

O diário alemão conta que Kim Il Sung, o primeiro e eterno presidente da Coréia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial na Coréia do Norte começa com seu ano de nascimento, 1912, designando-o "Juche 1" após a ideologia juche do estado. Ele tinha 41 anos quando assinou o armistício de 1953 que efetivamente encerrou a Guerra da Coréia.

Este enorme nível de interesse trouxe uma virada inesperada para a vida de Thiago Mattos Moreira. Especialista em relações internacionais, ele está completando seu último ano neste campo na Universidade de Hanyang, na capital sul-coreana, em Seul. Agora, Mattos, pesquisador da Universidade do Rio de Janeiro, é demandado como palestrante.

"As pessoas querem saber como é realmente a vida na Coréia do Norte, se o país realmente poderá começar a III Guerra Mundial, ou estão interessados ??apenas na cultura coreana".

Estabilidade brasileira em perigo

Claro, os brasileiros também querem saber como um país tão pequeno é capaz de desafiar os EUA, que é o maior poder militar do mundo. E como eles podem se envolver em um cenário de "conflito clássico", conforme descrito por Paulo Watanabe, Professor de Segurança Internacional da Universidade Estadual de São Paulo. É aí que um país ameaça diretamente outro, uma forma de conflito que não foi vista desde o fim da Guerra Fria, ele acredita.

"Nos últimos anos, a Coréia do Norte é o país que mais claramente desafiou o poder americano", diz Watanabe. "Ao realizar esses testes, eles querem mostrar que eles estão no mesmo nível que os EUA".

Uma guerra significaria o fim de um dos países, provavelmente a Coréia do Norte. E teria um efeito direto em todo o mundo, enfatiza Watanabe. "Sobretudo, isso teria um impacto na economia chinesa", explica Watanabe, que ele diz ser o "centro do comércio mundial e certamente o parceiro mais importante para o comércio exterior brasileiro". Isso significa que a estabilidade da economia brasileira também está em jogo.

Lógica binária

Mas esse é o motivo do interesse excessivo dos brasileiros em relação a essa questão? Claudia Marconi, cientista política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, acredita que há outra explicação. Ela acha que muitos de seus compatriotas reconheceriam uma espécie de lógica binária em tal conflito: democracia enfrentada contra uma ditadura, racionalidade versus irracionalidade, globalização versus isolamento, capitalismo versus comunismo.

"No momento, esse tipo de polarização é fortemente refletida na sociedade brasileira", diz Marconi. Por exemplo, ela lembra os enormes protestos em 2015 contra a ex-presidente esquerdista, Dilma Rousseff, onde os conservadores convidaram os partidários esquerdistas a "ir a Cuba!"

O medo de conflito

O psicólogo José Paulo Fiks é pesquisador de trauma na Universidade Federal de São Paulo. Ele vê ainda outro aspecto no fascínio pela Coréia do Norte: lembra o medo de uma greve nuclear que ele experimentou na Europa durante a era da Guerra Fria na década de 1980.

De acordo com a avaliação de Fiks, não há memórias traumáticas de guerra no Brasil, como há na Coréia do Norte. Aparentemente, o trauma da ditadura militar (1964 a 1985) também desapareceu bastante. Parece que os brasileiros estão realmente tentando entender o que está acontecendo dentro do universo isolado da Coréia do Norte.

O medo real dos brasileiros é mais desencadeado pela vida diária. "Os receptores e os sistemas de alarme dos nossos cérebros são mais direcionados à realidade brasileira. Eles são direcionados para a violência diária mais presente nas ruas da América do Sul do que em qualquer outro lugar do mundo".

>> Deutsche Welle