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Risco sem nome

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Em 2002, quando Lula tornou-se favorito nas pesquisas para a eleição presidencial, o mercado financeiro, em surto histérico, inventou o “risco Lula”. O especulador Georges Soro concebeu um medidor de risco, o “lulômetro”. Lula desatou o nó com a Carta ao Povo Brasileiro: respeitaria contratos e preservaria os fundamentos econômicos.  Agora, embora se mantenha favorito, ele está fora da disputa mas a incerteza eleitoral está liquidando com as  expectativas de um ano melhor na economia. Existe o “risco Bolsonaro” mas o que apavora mesmo os mercados é o “risco ninguém”, a falta de um candidato competitivo entre os partidos da centro-direita, comprometido com a agenda de reformas neoliberais. 

Pelo andar da carruagem, 2018 seguirá em compasso de espera.  Dificilmente os resultados produzirão no eleitorado o sentimento de bem-estar que poderia favorecer os candidatos da esfera governista,  ou dela distanciados, como Geraldo Alckmin (PSDB),  mas associados no movimento que levou ao impeachment de Dilma.  E com isso, está criado um círculo vicioso:  a economia não os ajuda a crescer, e não crescendo, eles contribuem para travar os negócios e as iniciativas econômicas. Este cenário ajuda Bolsonaro e os candidatos de oposição. 

Na segunda feira, o mercado regurgitou com os resultados da pesquisa Datafolha: Lula na liderança, Bolsonaro firme no segundo lugar, Marina, Barbosa e Ciro em alta. Na centro-direita, Alckmin empacado e os demais, no vale da irrelevância. Nos cenários sem Lula, a situação não melhora. A bolsa caiu e o dólar subiu. Em seguida, o Banco Central sinalizou que o crescimento do PIB no primeiro trimestre será 0,5%  menor que o do último trimestre de 2017.  O boletim Focus, rebaixou a projeção de crescimento, de 2,80 para 2,76%. O Caged informou ontem que foram criados 56 mil postos de trabalho com carteira assinada em março.  Menos mal, mas não é nada quando existem 12,6 milhões de desempregados.  

Do Congresso, já ligado na campanha, dificilmente virão medidas que poderiam melhorar o humor dos agentes econômicos. Assim, a tendência de crescimento persiste, mas fortemente contida pela incerteza eleitoral. E como tudo indica que o quadro só terá contornos definitivos em agosto, esqueçamos a ideia de um ano melhor. 

MULHERES NA DIPLOMACIA 

Os novos diplomatas formados pelo Instituto Rio Branco escolheram como paraninfa a primeira mulher que chegou ao topo da carreira, a embaixadora aposentada Teresa Quintella. E como patronesse, Marielle Franco, homenagem que perenizará o nome da vereadora assassinada: na tradição diplomática, os jovens formandos serão para o resto de suas carreiras identificados como da “turma Marielle Franco”. Os pais dela estavam lá, naqueles salões que nunca imaginaram pisar, como disse dona Marinete,  em reconhecimento à luta da filha. Duas outras mulheres foram homenageadas. A professora Sara Walker, que vem ajudando a formar gerações de diplomatas, e a funcionária Francisca, copeira antiga do Instituto. 

Falamos muito da sub-representação das mulheres na política e bem menos da predominância masculina nos postos de comando do Executivo.  Na diplomacia o quadro melhorou mas apenas 30% das formadas ontem eram mulheres. Em 1918, pela primeira vez, 18 mulheres foram aprovadas no concurso, mas foram barradas. Ganharam na Justiça o direito de ingressar na carreira mas, em 1938, o acesso foi legalmente permitido apenas aos homens, uma discriminação que só cairia em 1954. Mesmo assim, elas não chegavam ao posto de embaixadora, tabu rompido por Teresa Quintela em 1987. “Nos cinco anos seguintes, fui a única mulher no topo da carreira, e me sentia como um troféu que o Itamaraty exibia em sinal de igualdade de oportunidades”. Em 1992, foi a vez de Vera Machado. Em sua fala, o ministro Aloysio Nunes admitiu que é preciso avançar, observando, é claro, a meritocracia.