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Ciro, Lula e o PT

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No momento em que a brisa sopra a favor de Ciro Gomes, e ele aproveita a solteirice do PSB e o dilema do PT para articular possíveis alianças, a pesquisa JB/ Paraná Pesquisas mostra que, pelo menos no Rio, o favoritismo de Lula recuou, cedendo o primeiro lugar a Bolsonaro.  O PT sempre soube que isso aconteceria, na medida em que mais eleitores concluíssem que  Lula não poderá ser candidato. Nem por isso, Ciro e outras forças da esquerda deveriam aumentar a pressão por uma adesão do PT, sob o risco de comprometer a convergência futura: se ele chegar ao segundo turno, não ganha sem o apoio petista. Se ganhar, precisará do PT e de outros mais para governar. 

Lançando ou não um candidato a vice para funcionar como ectoplasma de Lula na pré-campanha, antes que o Judiciário consume sua  intervenção no pleito, impugnando a candidatura, o PT não tem como fugir ao seu plano A: marchará com Lula até onde for possível, e não apenas porque lhe deve isso. Depois, discutir o plano B agora estilhaçaria o partido.  Este comando está vindo de Lula, e não porque sua desistência significasse uma confissão de culpa, como disse na carta à senadora Gleisi. A candidatura é a arma que lhe resta para manter ativa sua defesa, e a que resta ao partido para preservar o legado do lulismo e o apelo popular da sigla, bem maior, segundo as pesquisas, que o dos outros partidos.  Em pesquisas qualitativas que o PT vem fazendo, até mesmo eleitores neutros, que não votariam nele, dizem que a opção por outro candidato agora, de dentro ou de fora, seria uma traição a Lula. 

Ainda que Ciro feche com o PC do B e o PSB, o PT seguirá com a bandeira de Lula. Fala-se em seu isolamento, o que faz o ex-chanceler Celso Amorim, o mais cotado como vice, lembrar um velho chiste inglês: “Névoa sobre o Canal da Mancha: o continente está isolado”, manchetou um dos jornais. Tendo o candidato favorito, sendo o maior partido, o melhor estruturado, o que tem maior base popular e mais conexão com os movimentos sociais, diz ele, falar em isolamento do PT é uma inversão de sentido equivalente à da manchete inglesa.  As cogitações sobre seu nome ele evita comentar mas refuta as pressões externas. Desistir de Lula seria rasgar o discurso que ele foi condenado e preso para que não fosse candidato.

Recentemente Ciro afirmou que era preciso respeitar o tempo do PT, e assim indicou que estava disposto a esperar que o partido cumprisse seu rito de resistência e esgotasse a luta judicial por seu candidato.  Mas com a decisão de Joaquim Barbosa de não entrar na entrar na selva,  e a busca de outro rumo pelo PSB,  ele avançou nas articulações. A decisão do PSB levará mais tempo mas o PC do B já está praticamente embarcado em sua candidatura.  Agora ele flerta com o PR e PP, e não pode ser criticado por isso. Faz o que Lula fez em 2002, ampliando as alianças ao centro e tranquilizando o mercado, oralizando uma Carta ao Povo Brasileiro. Pode ter o empresário Benjamin Steinbruch como vice, assim como Lula teve José Alencar. 

O risco que ele corre, até porque o temperamento ajuda, é o de queimar as pontes com PT, atropelando seu líder preso, criando fissuras incontornáveis lá adiante, nefastas à sobrevivência da centro-esquerda, que passa pela chegada de um de seus candidatos ao segundo turno. Pode ser ele, mas se correr com o andor, pode tropeçar.

MANUELA NO TOPO 

A candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila, ultrapassou Jair Bolsonaro e assumiu a liderança no ranking de visibilidade e relevância dos presidenciáveis no Twitter, na semana de 3 a 10 de maio. Ela já vinha ascendendo na análise semanal da Aja Solutions, dirigida pelos jornalistas Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa. 

Foi uma semana atípica: com apenas um tuíte avisando que não seria candidato, Joaquim Barbosa saltou do 13º para o 3º lugar, ofuscando os demais. Agora as abóboras vão se acomodar.