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Negócio agourado

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O bom senso recomenda ao presidente Temer que não leve adiante a privatização da Eletrobras nem a venda das seis distribuidoras da holding. Além de seu mandato estar acabando, questões nebulosas pairam sobre a operação que enfrenta resistências na sociedade, entre governadores e dentro da própria base governista. Ainda ontem o JORNAL DO BRASIL mostrou a escandalosa participação de representantes de empresas interessados e concorrentes no Conselho de Administração da Eletrobras, algo que pode não ser ilegal mas é moralmente questionável, jogando mais sombras sobre o processo.

Também ontem a juíza Raquel de Oliveira Maciel, da Justiça do Trabalho do Rio, suspendeu a venda das distribuidoras, dando um prazo de 90 dias para que lhe seja apresentado um estudo sobre o impacto da venda para os empregados: mais de 11 mil, entre funcionários e terceirizados. A venda em questão é a das companhias energéticas dos estados do Acre, Rondônia, Piauí, Alagoas, Roraima e Amazonas.

O governo tem pressa. Há três semanas, em mais uma demonstração de seu descolamento do Planalto, a base governista, com Rodrigo Maia à frente de um acordo com a oposição, deixou caducar a medida provisória 814, precursora lega do leilão, que fixa em meros R$ 50 mil o preço de cada distribuidora. Elas são deficitárias, têm dívidas e encargos que serão herdados pela Eletrobras, não pelos compradores, obrigados a realizar novos investimentos. Livrando-se delas, o governo quer tornar mais atraente e rápida a privatização da holding.

Com a derrota da MP na Câmara, o governo recorreu ao TCU e obteve, no último dia 30, autorização para tocar o processo mesmo assim. No dia seguinte enviou ao Congresso um projeto de lei reiterando os termos da MP derrotada, que agora tramita, sem muito empenho dos aliados, numa comissão.

As distorções na composição do Conselho de Administração da Eletrobras são escandalosas. Acionistas têm a prerrogativa de indicar membros do conselho, mas deviam ser interditados quando representam interesses cruzados. É o caso do vice-presidente da Engie Energia, Manoel Arlindo Zaroni Torres, e de José Paes Rangel, representante do Banco Clássico, do investidor Juca Abdalla, também acionista da Engie.

Quando o governo está acabando (temporalmente falando), presidentes devem deixar grandes negócios para o sucessor, como fez Lula com a compra dos caças da Aeronáutica (embora seja acusado de ter feito lobby a favor da marca sueca que venceu a licitação). A privatização da Eletrobras ou de suas subsidiárias tem tudo para se tornar uma dor de cabeça para Temer, que já tem tantos problemas com a Justiça. Na colmeia de intrigas brasiliense, corre todo tipo de boatos sobre este grande negócio em final de mandato.

DELAÇÕES EM QUESTÃO

Depondo ontem por videoconferência à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, refugiado na Espanha, repetiu as acusações contra o sistema de delações premiadas da Operação Lava Jato em Curitiba: envolveriam proteções, tráfico de influência, extorsões e seletividade. Questionou novamente a veracidade das informações fornecidas pelas planilhas da Odebrecht, base de muitas condenações. “Ele mostrou o lado oculto da Lava Jato”, diz o deputado Wadih Lula Damous.

Indicado como testemunha de defesa de Lula, Tacla Durán foi impedido de depor pelo juiz Moro. A procuradora-geral Raquel Dodge ignorou um pedido de investigação da bancada do PT. Ele será um dos primeiros a serem ouvidos pela CPI das delações, que vem aí. Dodge também pode ser chamada.

DIVIDIU 

O manifesto lançado ontem, pedindo a união dos candidatos da centro-direita contra Bolsonaro e contra a esquerda, produziu efeito contrário. Rodrigo Maia e o centrão não gostaram.

LULA AO VIVO 

Preso há quase dois meses, Lula reapareceu de fato mais magro, porém bem humorado, sedutor e contando histórias com o mesmo gosto, no depoimento por videoconferência. Pode não ser candidato mas será a ausência de forte presença na eleição.