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O cerco a Ciro

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Na campanha de 2014, houve um momento em que todos se voltaram contra Marina Silva. Em alta nas pesquisas, ela ameaçava deixar o tucano Aécio Neves fora do segundo turno e nele derrotar a então presidente Dilma Rousseff. Movimento bem parecido acontece agora contra o candidato do PDT, Ciro Gomes. Ele não enfrenta, por ora, uma campanha negativa perversa, como aconteceu com Marina. Diferentemente dela, Ciro não estourou nas pesquisas, mas vinha costurando alianças, à esquerda e à direita, que tornariam sua candidatura mais competitiva. Agora está sendo cercado pelo PSDB, o PT, o MDB e o governo de Temer, que ele chama de quadrilheiro. 

Começando pela situação mais exótica, as reações do Governo Temer. Na sexta-feira o ministro Carlos Marun ameaçou com a perda de cargos os partidos do Centrão (DEM, PP, PRB e SD) que andavam inclinados a apoiar Ciro, que chamou de “completamente hipócrita” por cortejar partidos que estão no governo que critica. Nem Marun, nem Temer, que já havia feito chegar aos líderes do Centrão seu descontentamento, cobrou deles o apoio ao candidato do MDB, Henrique Meirelles, o que faria algum sentido. Vetando o apoio a Ciro, Temer e seu grupo ajudam é o tucano Geraldo Alckmin, em franca ofensiva para conseguir aliados e se viabilizar. 

As ameaças são inócuas, vindas de um governo que não tem autoridade para fazer exigências dessa ordem e ainda precisa dos aliados no Congresso. Mas por outras razões, Ciro pode ficar sem o apoio do Centrão. Diante do risco crescente de ficarem fora do segundo turno, as forças de centro-direita começaram a se render ao fato de que Alckmin, mal ou bem, é o melhor nome que têm.  O novo esforço de convergência resultou, na sexta-feira, na desistência de Flávio Rocha, pré-candidato do PRB. 

No Centrão, um dos partidos mais decididos a apoiar Ciro é o PP. Seu presidente, Ciro Nogueira (PI), bem como as seções nordestinas e nortistas estão fechados com o pedetista, mas os diretórios do Sul preferem Alckmin. Eis que, no meio da semana, o ex-ministro da Saúde de Temer, Ricardo Barros (PR), ofereceu-se para ser o candidato do partido a presidente.  Talvez tivesse 0,5% nas pesquisas, não importa.  Lançou-se apenas para tirar o partido da rota de Ciro. E o Planalto ajudou também nesta manobra favorável ao tucano. 

Na outra ponta do espectro, é o PT que joga pesado para evitar que o PSB feche com o candidato do PDT.  O acordo já ia bem avançado mas refluiu depois das patranhas jurídicas de domingo passado.  Setores do PSB calcularam que as manobras para evitar a soltura do ex-presidente Lula, ainda que por algumas horas, reforçariam a percepção de que ele é perseguido para não ser candidato. Que isso favoreceria eleitoralmente sua candidatura e, por decorrência, a de quem o venha a substituir. Houve uma freada nas negociações e o PT aproveitou para pressionar o PSB. 

A senadora Gleisi Hoffmann foi a Pernambuco conversar com o governador Paulo Câmara. Por conta da força do lulismo no estado, ele prefere o PT como aliado, mas não tem força para impor esta decisão ao partido. Garantiu que apoiará Lula mesmo que o PT mantenha a candidatura de Marília Arraes ao governo, cuja remoção era uma condição inicial. Em São Paulo, o PT ofereceu ao governador paulista Márcio França, que disputa a reeleição, o sacrifício da candidatura de Luiz Marinho ao governo, mas ele recusou. O desgaste do PT em São Paulo é tão grande que não valeria à pena. Ele prefere o modesto apoio do PDT.  E assim, mesmo não conseguindo uma aliança formal, o PT fez com que a divisão se reinstalasse no PSB, fortalecendo a tendência a não apoiar ninguém, liberando cada diretório fazer seu jogo. Ciro seria apoiado na maioria dos estados mas, sem a aliança formal, não ampliará seu tempo de televisão, que o tornaria mais competitivo.

O baile segue, com marchas e contramarchas,  até 5 de agosto, último dia para a realização de convenções.