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Rasga corações

Anselmo de Andrade -
A família de Marielle Franco: seus pais, Marinette Santos e Antônio Francisco da Silva, sua filha Luyara Santos, a irmã, Anielle Franco, com a filhinha Mariah e o marido; Na mesa do debate, a colunista, a mediadora, Marinette e Anielle
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Macaque in the trees
A família de Marielle Franco: seus pais, Marinette Santos e Antônio Francisco da Silva,sua filha Luyara Santos, a irmã, Anielle Franco, com a filhinha Mariah e o marido; Na mesa do debate, a colunista, a mediadora, Marinette e Anielle (Foto: Anselmo de Andrade)
NESTE MOMENTO de decisão do país, em que muitos parecem fazer pouco caso, ou não lembrar, da tortura e da morte dos opositores da ditadura no Brasil, aos quais devemos a liberdade e a democracia reconquistados, é fundamental lembrar as lutas contra aquela barbárie... ESSE ENGAJAMENTO pode ser inclusive através da moda... O 7 DE SETEMBRO foi o Dia 1 do Seminário “Preta Porter” da Flupp em parceria com a Casa Zuzu Angel de Memória da Moda. Presentes, mães e pais de jovens assassinados por agentes do Estado, bem como os estilistas, todos negros, do coletivo de moda das comunidades, que irão criar uma coleção que reproduza a moda de protesto de Zuzu Angel, em 1971... A PRIMEIRA MESA de debate reuniu, comigo, dona Marinete Silva, mãe de Marielle Franco, e a irmã, Anielle Silva.... MARINETE DISCURSOU sobre a tragédia da família, o assassinato de sua filha e a imensa repercussão do fato. Marielle hoje transcende o Brasil, tornou-se internacional... PORÉM, NADA lhe trará de volta sua filha... ANIELLE reclamou dos que se aproveitam da imagem de sua irmã, política e comercialmente: “Soubemos que há numa loja do Leblon bonecas “Marielle” à venda. Soubemos de tênis da Nike com o nome Marielle Franco!”... “TUDO SEM nosso conhecimento e nossa autorização. Lucram com a fama de minha irmã morta, enquanto para nós sobram dificuldades. Marielle ajudava toda a família. Hoje, minha mãe não pode pagar o seguro saúde que minha irmã proporcionava”. E contou que vai iniciar o circuito de palestras “Papo Franco”, levando adiante o bom combate da irmã... FORAM DOIS LONGOS depoimentos e muita emoção, quando dona Marinette lembrou sua dificuldade para acreditar, quando o padre da família telefonou para lhe dar a notícia da morte... FALOU DA ESPERANÇA de que até o fim do ano o caso esteja esclarecido, conforme promessa do comandante da Intervenção, general Braga Netto. Lágrimas correram... NA SEGUNDA parte da tarde, falaram mães e pais dos jovens assassinados. Elas levavam nas mãos fotos, roupas e objetos dos filhos arrebatados pela violência policial, como se fossem resquícios, pedaços dos jovens que perderam... A MÃE COM A PIPA, a mãe com a bola, a com a camiseta manchada de sangue da hora da morte, a mãe com um quadro de retratos do nascimento à morte do filho... PROCISSÃO DE sofrimentos. Lamentos comovendo a sala inteira, em contraste com as saias, que esvoaçavam alegres em fotos da moda de Zuzu, enquanto as vitrines exibiam os vestidos emblemáticos da Coleção do Luto, que os estilistas puderam pesquisar de pertinho... ENTRE OS comentários, ficou o da defensora pública Eufrásia Maria Souza das Virgens: “É muito importante o apoio às mulheres que perderam seus filhos pela violência do Estado, que, apesar da superação da ditadura pela democracia, ainda continua matando e torturando, talvez como resquício daqueles tempos sombrios”...


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SERÁ HOJE, às 19 horas, a missa de sétimo dia do estimado chef pioneiro José Hugo Celidônio, que introduziu o conceito da alta gastronomia brasileira. Na Igreja de São José, escolha de Marialice Celidônio, lembrando que José Hugo também tinha o José em seu nome. Padres Jorjão e Omar celebrarão juntos.

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Com João Francisco Werneck