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A mensagem de Ambrose Akinmusire

Divulgação -
"Não tento pensar no que é novo ou no que é velho, e sim no que é bom" - Ambrose Akinmusire, trompetista
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Considerado o maior trompetista do mundo pela crítica internacional, Ambrose Akinmusire não é muito dado a entrevistas, como me contou sua empresária, Mariah Wilkins. Após mais de 15 dias entre e-mails e telefonemas, consegui marcar uma conversa por telefone. No bate-papo, ele, que ganhou dezenas de prêmios com seu último trabalho “A rift in decorum” (Blue Note Records), falou sobre carreira, suas influências e sua expectativa para a vinda ao Brasil, onde fará apresentações no Blue Note Rio, no próximo dia 27.
Diretamente da Califórnia, onde se apresentava no festival de San Jose, Ambrose conversou com a coluna, junto com o CEO do Blue Note Rio, Daniel Sztajnberg, e mostrou uma esperada resistência em suas palavras, bem diferente do poderoso trompete que permeia suas brilhantes apresentações. Ainda assim, ressaltou o conhecimento sobre os grandes músicos brasileiros e a ansiedade pelos shows que fará aqui:
“Já estive em São Paulo, porém será minha primeira vez no Rio de Janeiro, e mal posso esperar para receber a energia do público carioca, que, pelo que ouvi falar, é um dos mais incríveis do mundo”.

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"Não tento pensar no que é novo ou no que é velho, e sim no que é bom" - Ambrose Akinmusire, trompetista (Foto: Divulgação)

JORNAL DO BRASIL: Você foi eleito, recentemente, o melhor trompetista do mundo pela “DownBeat”, um dos mais importantes veículos do mundo do jazz. O que isso significa para você?
AMBROSE AKINMUSIRE: Antigamente, isso não significaria muita coisa para mim. Hoje, porém, consigo perceber a importância de ser reconhecido numa eleição na qual já estiveram grandes nomes do jazz, como John Coltrane, Charlie Parker e Lee Morgan. Para um jovem de Oakland, na Califórnia, isso é incrível.

E como foi o seu trabalho no projeto “Blue note all stars”, tocando com grandes músicos da nova geração jazzística?
São caras que já tocam comigo há muitos anos. Me mudei para Nova York em 2000, e já em 2001 e 2002, pude começar a tocar com alguns deles. Tanto anos juntos fez todo sentindo na hora de produzirmos um álbum (“Our point of view”, 2017). São grandes amigos, sem dúvida.

Como foi gravar seu último álbum em um lugar tão importante e emblemático como o Village Vanguard?
Foi uma das grandes metas concluídas na minha carreira. Eu amo aquele lugar, não existe nada maior que gravar onde seus heróis tocaram. A confiança que a Lorraine Gordon (proprietária do Vanguard, que morreu este ano) me passou, foi uma certeza que me fez crer estar no caminho certo com minha música.

Qual é sua intenção com a música? Que mensagem você quer passar?
Isso está sempre mudando. Quando era jovem, queria que minha música fizesse as pessoas pararem e pensarem sobre a vida, que elas não deixassem, na correria do dia a dia, de refletir sobre os grandes propósitos no mundo. Nos dias de hoje, eu quero que minha música seja ativa, e mostre às pessoas que elas podem ser elas mesmas, que podem tomar suas atitudes sem medos. Só assim vamos mudar alguma coisa e ter certeza que não estamos neste mundo de maneira improdutiva.

Como você enxerga a diferença do jazz atual para o jazz de antigamente?
Eu tento não pensar nisso. O espírito da música vive muito. O segredo é achar maneiras de reinventar os instrumentos e seguir passando a sua mensagem. Sempre haverá o risco de criar algo novo, mas isso é psicológico. Coltrane estava sempre em busca de algo novo, e várias vezes foi criticado por isso, principalmente pela época em que vivia. Antes disso foi Charlie Parker, com o Bebop. Sempre haverá mudanças. Acho que a música seguirá em frente, e não tento pensar no que é novo ou o que é velho, e sim no que é bom.

Após o sucesso do último álbum, existem planos para um novo trabalho?
Sim, vou lançar no dia 12 de outubro meu novo álbum, “Origami harvest”. É um grande trabalho envolvendo não só o jazz tradicional , mas também com a presença de uma orquestra e do rapper Kool A.D., explorando toda a moderna musicalidade na qual acredito.

Quais são suas expectativas para o show no Rio de Janeiro?
Espero viver um grande momento nesta cidade. Eu não preciso me preocupar com a música, pois tenho uma grande banda comigo. Já soube que os cariocas têm uma energia incrível, e espero poder devolver à plateia toda essa energia em meus shows.

Como será a banda que vai te acompanhar aos shows?
Na bateria, Justin Brown, que cresceu comigo, tocamos juntos desde a adolescência. Harish Raghavan, no baixo, e Sam Harris, no piano. Nosso quarteto está junto há nove anos. Conheci Harish e Sam na faculdade, e Justin no colégio. Temos uma sinergia incrível juntos.

Gostaria de mandar algum recado aos fãs brasileiros?
Claro. Espero que eles possam ir ao show, e que possamos nos conhecer antes e depois do show. Acho fundamental essa troca de energia, em que posso ouvir e aprender sobre a música e sobre a cultura local. O Brasil tem uma história de grandes músicos, e espero não decepcionar o público. Será uma grande noite.