ASSINE
search button

A democratização da violência no Espírito Santo

Compartilhar

O catastrófico episódio que infelizmente afeta a população do estado do Espirito Santo é mais um agravante do sistema falho de segurança publica deste país. Não existe profissional que suporte as péssimas condições de trabalho que o policial militar encara diariamente. O resultado da ineficiência do Estado gerou uma crise na atual política criminal. É guerra no cárcere, é greve na polícia, é roubos/saques, é estupro, é extermínio.

Desde o último sábado (03/02), a população sofre as consequências do caos instaurado, fruto dos movimentos organizados por policiais militares capixabas e suas famílias. São legítimas as reivindicações dos profissionais da segurança pública, que estão em torno do reajuste salarial da categoria, que não tem revisão há 07 anos. Porém a irresponsabilidade da crítica situação não é do policial, mas sim de uma sociedade que está adoecendo e perdendo seus valores.

É salutar ressaltar que o estado do Espirito Santo é um dos que mais mata negros no Brasil e está no primeiro lugar em mortes de mulheres negras. Sem a presença da polícia nas ruas, a população vai colocando suas feições mais violentas para fora. A população acuada com medo vive uma prisão domiciliar. Os casos bizarros de “justiça com as próprias mãos” e inúmeras situações de linchamento não são das mais escandalosas. Os casos de ‘pessoas de bem’ envolvida nesses casos é o que nos assustas, haja vista os inúmeros envolvidos nos saques e furtos feitos em lojas e mercados noticiados a todo instantes pela mídia e rede sociais.

O caos ético e moral revelado nas mais variadas infrações cometidas reverberam a falta de consciência coletiva da população. Enquanto o mecanismo de segurança pública servir como controle social, veremos o que uma paralisação dessas pode resultar: a afloração de um desejo latente de corrupção. Ficou fácil de perceber que a cada oportunidade dessa muitos dos tidos ‘cidadãos de bem’ viram criminosos. Parafraseando o teólogo Sergio de oliveira, “se precisamos de polícia para sermos honestos, somos uma sociedade de bandidos soltos!”

Eu estou refletindo muito ainda sobre o caos que se instaurou, de como as forças políticas recorreram a guarda nacional e as forças armadas, e como estão tentando conter a violência nas principais cidades do Estado. O que me espanta é que o cotidiano de mortes, tiroteios de dia e de noite, roubos e outras formas de violência que chocaram o país inteiro, é a rotina diária do universo da favela.

A greve da PM no Espirito Santo só democratizou a violência. Mostrou para o mundo que a PM e o Governo do Estado nunca se preocupou com a carnificina e com os corpos negros estendidos nos territórios periféricos. Se esse caos não afetasse a classe média, acredito que nada teria sido feito. A juventude negra e pobre está sendo exterminada, mas estava tudo dentro da normatividade, porém a corda arrebentou e a barbárie foi exacerbada.

* Walmyr Junior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ