ASSINE
search button

Assistimos sem acreditar à inércia, ao silêncio e ao escárnio

Compartilhar

Esta semana nos surpreendeu com uma das situações mais inusitadas; ao alegar necessidade de uma pausa para recompor-se fisicamente devido à possíveis agravamentos de seu quadro de saúde, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, foi na verdade hospedar-se em um Spa.

Nada demais em relação a hospedar-se em spas por parte de quem quer que seja, ainda mais do governador. Só que a ocasião é a das mais impróprias e a atitude uma das mais desprovidas de bom senso por parte de autoridades nos últimos tempos. Partindo do pressuposto que não houve a intenção de fazer pouco caso com a população do estado, servidores humilhados em filas de doação de cestas básicas e outros mendigando salários atrasados, além de uma total falência nos órgão públicos mais essenciais como hospitais e escolas, isso para não falar da Polícia Militar.

Fica por parte dos cidadãos e cidadãs um sentimento de ausência total de gestão e uma nota de escárnio por parte do governo. Não há nenhum problema em haver afastamento de qualquer autoridade ou pessoa para tratamento médico, não é aí que reside o problema, o problema é a relação de total desprezo com a população, por parte de alguns gestores.

E cada vez mais, isso vem ficando patente e visível. A insegurança, o desrespeito aos direitos humanos, o desmonte de instituições o nível da Universidade do Estado e do Hospital Universitário Pedro Ernesto, por exemplo; a morte cada vez frequente de crianças pobres em ambiente escolar, vítimas de incursões que na maioria das vezes tem um resultado pífio no que se refere à apreensões, prisões ou diminuição de violências, o que leva a crer que se trata mais de uma guerra incessante contar os pobres do que de fato uma "guerra às drogas".

Assistimos, essa é a palavra, assistimos sem acreditar à inércia, ao silêncio e ao escárnio, enquanto vivenciamos a dura realidade cotidiana da grande maioria da população, que consiste em  fazer o que se pode com o que ainda se tem.

Sigamos.

* Mônica Santos Francisco é pesquisadora, consultora na ONG ASPLANDE, colunista no Jornal do Brasil