Uma das maiores lutas que moradores das áreas pobres travaram, e travam até hoje, é pelo abastecimento digno de água. Desde as bicas, usadas vergonhosamente como moeda em troca de votos.
Há alguns dias ouvia a opinião de um comentarista de uma grande emissora de rádio falar sobre o fato de que a privatização da Cedae não interessava a ninguém senão aos políticos que a utilizariam como objeto de barganha e interesse espúrio.
Vamos lá, a questão é maior do que está. O problema não é a concessionária e sim a tradição parasita, patrimonialista e abjeta de se ter ocupantes de cargos públicos se beneficiando da coisa pública.
Ter a concessionária de um bem comum como a água entregue à corporações estrangeiras, aplicando simplesmente este discurso, não dá conta de ajudar a pensar que o problema é a dificuldade de romper com essa prática.
É preciso que a população não permita que nem os políticos se aproveitem desta e de outras empresas, buscando cada vez mais mecanismos de controle social e clamando para que estes cumpram os papéis para o qual foram eleitos.
Sei que não é tão simples, mas estamos no caminho e a Lava Jato é sem dúvida a prova disso. Uma privatização de um bem comum como água irá impactar profundamente os mais vulnerabilizados. As mulheres negras serão as mais atingidas e as consequências certamente danosas ao extremo.
Para além do abastecimento, a garantia de saneamento pleno deve ser reivindicada, pois é um nó ainda hoje em muitas áreas. Certo mesmo é que não podemos prescindir do debate e de comparar com as experiências de outros lugares.
A solução deve ser buscada no coletivo. Precisamos dar um tratamento adequado a esse tema. Não podemos deixar esse assunto ser discutido sem o devido cuidado que ele merece.
Um bem comum tão precioso não pode estar em mesas de negociação, isto é uma vergonha.
*Colunista, Consultora na ONG Asplande, Pesquisadora e Membro da Rede de Instituições do Borel