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'FT': Especialistas dão receitas para o Brasil com fim do boom das commodities

Encontro foi realizado na Fundação Getúlio Vargas

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A economia do Brasil se desacelerou acentuadamente. O freio foi pisado por volta do fim do super-ciclo das commodities que ocorreu na primeira década do século 21 combinada a um crescimento rápido do crédito. 

O debate no Brasil voltou à polêmica questão sobre como tornar mais competitiva uma das economias mais fechadas do mundo.

A resposta reside em melhorar a educação, simplificação da taxação, simplificar a burocracia em geral, e consertando a infra-estrutura. Mas em meio a esses conceitos há questões complexas tão profundas quanto a própria política e a cultura do Brasil.

O jornal britânico Financial Times e a FGV Projetos exploraram essas questões em uma mesa-redonda de discussão na sede da consultoria na Praia de Botafogo, com o Pão de Açúcar ao fundo. 

O debate foi conduzido por Joe Leahy, jornalista do Financial Times, e teve a participação de Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro do Comércio Global da FGV, Cesar Cunha Campos, diretor da FGV Projetos, Fernando Naves Blumenschein, coordenador de projetos na FGV Projetos, e José Augusto Coelho Fernandes, diretor de políticas e estratégias na Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

Abaixo, trechos editados da conversa.

Se você fosse presidente o que você mudaria primeiro para tornar o Brasil mais competitivo?  As respostas iam desde  melhorar a educação e a infra-estrutura até formular uma estratégia coesiva sobre o papel do estado.

Carlos Langoni

A primeira área que eu melhoraria é o capital humano e a educação porque são altamente relacionadas com a produtividade e a inovação. O Brasil conseguiu investir em educação, mas há um desafio em termos de qualidade — há grandes disparidades, especialmente no nível regional. A segunda dimensão, que também é extremamente importante para um país do tamanho do Brasil, é a logística e a infra-estrutura.

José Augusto Coelho Fernandes

Eu reformaria o processo orçamentário nacional e o sistema tributário. [nota do FT: na constituição do Brasil, grandes parcelas do orçamento são destinadas para despesas obrigatórias em áreas como educação e saúde, deixando apenas cerca de 15% de gastos a critério do governo para investimento em áreas como infra-estrutura.] O jeito como elaboramos o orçamento é uma explicação para nossas baixas taxas de investimento. Todo país tem algumas áreas onde os gastos do orçamento são predefinidos, mas no Brasil eles são muito altos.

Cesar Cunha Campos

O Brasil precisa reduzir a importância do estado na economia. [nota do FT: o estado brasileiro absorve quase 40% do PIB, se aproximando dos níveis de países desenvolvidos em despesas públicas, mas sem a mesma qualidade dos serviços.] Em regiões como São Paulo [centro industrial do Brasil], o governo é menos importante na economia do que em outras áreas, como Brasília e estados do norte e nordeste [as regiões mais pobres do Brasil onde uma mais alta proporção de pessoas recebe benefícios sociais]. Mas ainda assim é uma economia dominada pelo governo. Precisamos nos abrir mais para o mercado.

Fernando Naves Blumenschein

 Eu formularia uma estratégia sobre como meu governo lidaria com a concorrência. Você precisa ter uma estratégia para a política macroeconômica, política fiscal, educacional e do meio ambiente. O governo nunca teve um plano coerente.

Carlos Langoni 

Há uma forte correlação entre competitividade e abertura da economia e um reduzido papel do estado. Por exemplo, o setor mais competitivo no Brasil que está conseguindo um crescimento sustentável é a agricultura, que é 100% privada, com intervenção estatal mínima, sem controle de preços e pouquíssimas barreiras para importações e exportações e assim por diante. Por que não replicar esse modelo em outros setores?