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'NYT' (editorial): Dólar mais forte em uma economia mundial fraca

Mundo ainda depende muito dos EUA, que ainda não se recuperou totalmente da crise financeira

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Nos últimos meses, o dólar se fortaleceu  tremendamente frente a outras moedas como o euro, a libra e o iene. Isso reflete substancialmente a percepção entre investidores de que a economia norte-americana terá um desempenho bem melhor do que outras grandes economias nos próximos meses. É o que diz o editorial do jornal americano The New York Times publicado nesta terça-feira (31/03).

"O dólar é agora o mais forte que já foi diante de  mais de 24 outras moedas em mais de 10 anos, de acordo com um índice compilado pelo Federal Reserve. Um euro era negociado a US$ 1,09 na sexta-feira, vindo de US$ 1,37 há um ano; muitos analistas preveem que as duas moedas poderiam chegar à paridade nos próximos meses pela primeira vez desde 2003. Ao mesmo tempo, o iene caiu cerca de 14% frente ao dólar.

Como qualquer grande movimentação nos mercados financeiros, o fortalecimento do dólar desencorajou investidores e formuladores de políticas. Alguns, como o governador do Banco da Reserva da Índia, Raghuram Rajan, reclamaram que estamos à beira de uma “era de uma competição de desvalorização e uma política de empobrecer o vizinho.” Ele e autoridades em outros países, como a Coréia do Sul, estão preocupados com que os bancos centrais tenham projetado a depreciação de moedas como o euro e o iene ao fabricar moeda e comprar bônus agressivamente em uma ousada tentativa de tornar suas exportações mais baratas.

O Banco Central Europeu e o Banco do Japão estão comprando vários bônus para estimular as fracas economias regionais, mas não necessariamente para atingir outros países. Se forem bem sucedidos, acabará beneficiando toda a economia mundial, incluindo os Estados Unidos, que também é afetado quando o dólar se fortalece porque torna os produtos americanos mais caros para compradores estrangeiros.

A maior questão é se a política monetária e uma moeda se depreciando pode fazer uma diferença significante. Há cada vez mais evidências de que simplesmente crescendo o fornecimento de dinheiro pode não ser suficiente para reaquecer economias fracas, especialmente se a demanda no resto do mundo não estiver crescendo rápido o bastante. Países não podem exportar seu caminho para o crescimento se outras nações não estão em uma posição para comprar seus bens e serviços.

Isso pode ajudar a explicar por que a economia do Japão ainda está lutando há dois anos depois que seu banco central começou a fazer grandes compras de bônus, o que ajudou a fazer o iene cair frente ao dólar. A maior parte do problema é que o governo do primeiro ministro Shinzo Abe não fez o bastante para reformar a economia, por exemplo ao fazer empresas investirem mais de suas economias e aumentar a contratação de mulheres.

Esses são alguns sinais de uma revitalização europeia mas não suficiente para comemorar um retorno ao crescimento. Muitos países, como a Grécia, a Itália e a França, continuam encolhendo, estão estagnados ou tendo um crescimento pífio. Um euro mais fraco é bom para todos os países que o usam mas vai beneficiar principalmente grandes nações exportadoras como a Alemanha, que já é uma das economias mais fortes da zona do euro.
Mesmo se o euro alcançar a paridade com o dólar, isso pode não ajudar significativamente países mais fracos como a Grécia que não são grandes exportadores ou nações como Portugal cujas exportações vão em maior parte para outros países europeus. Para ajudar esses países, formuladores de políticas na zona do euro devem se afastar da austeridade insensata e proceder através de reformas há muito adiadas para estimular o investimento e o aumento de empregos.

Para os Estados Unidos, um dólar mais forte vai servir para amortecer o crescimento, apesar de ninguém poder prever com precisão até que ponto porque os valores relativos das moedas são difíceis de prever. Alguns produtores americanos afirmaram que estão perdendo pedidos ou vendo seus lucros declinarem na medida em que são forçados a cortar preços para competir com preços mais baixos oferecidos por empresas europeias e japonesas.

A valorização do dólar é uma boa razão para que o Federal Reserve adie o aumento da taxa de juros neste verão. Porém, mais do que qualquer outra coisa, o dólar mais forte serve como um lembrete de que o mundo ainda está muito dependente dos Estados Unidos, que ainda não se recuperou totalmente da crise financeira. Isso não é um bom prenúncio para um crescimento mundial sustentável", conclui o editorial do New York Times.