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Campanha em clima duvidoso

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Uma pergunta que insiste em não se recolher: qual o clima que aguarda o eleitorado brasileiro, ante as incertezas que hoje vivemos? Percebe-se que nem os agentes mais categorizados e seus interlocutores arriscam previsão sobre o que está por vir, e, vindo, como interferir no calor das escolhas. De forma que ninguém sabe de nada, e quem disser que sabe está mal informado. É um fato, porque o ambiente que aguarda a campanha, antecedente do processo eleitoral, vai evoluindo ao sabor de marchas e contramarchas; para não se falar do secreto fascínio da política pelo imprevisível. Pode acontecer o que não se espera que aconteça. Situações capazes de sofrer mudanças, tão rápidas e graves, que agora são uma coisa e pouco depois tudo muda, como as nuvens de Magalhães Pinto, imortalizadas em célebre frase (que nem era dele, mas de Raul Soares).

Para admitir que o clima pode se tornar tenso, a primeira indagação a se formular é o papel reservado aos grupos de esquerda, ainda inconformados com a perda do sólido abrigo do ex-presidente Lula, sempre escudado pelo dogma petista do patronato insubstituível. Como, então, haverá de se operar a estratégia dessa força, sendo quase impossível que evolua sem o caldo das emoções? Jogar com o tempo e esperar, em demasia, a bênção duvidosa da Lei da Ficha Limpa, pode levar à perda de espaços. A pressa, não menos danosa, em avançar, por estar o pai definitivamente condenado, pode resultar em perigosa vulnerabilidade na hora crucial da disputa pela Presidência da República. Um risco a ser bem medido, com as cautelas devidas em relação às adesões com cheiro e sabor de oportunismo. Quase sempre o depois das urnas dispensa compromissos sentimentais. Pois a eleição, se a retaguarda faz com que todos se juntem, é bem semelhante à guerra que se trava nas casamatas: quando morre o líder, chama-se logo um substituto, que não é obrigado a honrar a memória de quem o antecedeu.  

Os tempos sombrios seriam ameaça apenas ao PT e a seus seguidores? De modo algum. Dúvidas quanto à estabilidade já povoam as correntes que, originalmente, pretendiam se beneficiar dos escorregões dos petistas, ainda que estes se mostrassem dispostos a manter a bandeira do lulismo à meia verga. A começar pelos tucanos, porque também para eles o céu vai se acinzentando, ao serem acusados de crimes que pouco diferem dos que mandaram Lula para a cadeia. A vez dos tucanos: Alckmin, Aécio, Azeredo, Aloysio, todos com A, numa ordem do abecedário que ninguém sabe onde pode parar. 

Tempo nublado na política, sujeito a trovoadas, torna-se, sem exclusão, uma ameaça para os projetos de centro, que vinham namorando, com ardor, todas as esquerdas rolando, juntas, morro abaixo. 

De forma que os caminhos e descaminhos afetam a todos, sendo atores principais ou secundários. Ninguém escapa, caso venham os temporais. Nem mesmo o governo, sendo ou não candidato o presidente Temer, pois com ele há suficientes poderes capazes de alterar as temperaturas da hora. Para eleger ou derrotar, conhecida a robusta força do DO, que não é partido, mas sigla do Diário Oficial, que nomeia, demite, premia, castiga e gera reações. Eleitor poderosíssimo. 

Restando seis meses para o ápice do processo, vale lembrar, pelo ensejo neste momento revelado, que o país conta com todos os ingredientes para registrar a novidade: nunca, em eleições passadas, as vésperas se revelaram com ameaças de tamanha insegurança quanto à convivência de partidos, candidatos e militâncias. As crises já vivenciadas revelaram intensidade e perigo, mas depois de conhecidos os vitoriosos, sob pretexto de maiorias não alcançadas, ou por se arguir a participação de partido na clandestinidade, o comunista. Tal como se deu, em 1955, com a eleição de Juscelino Kubitscheck. 

Os problemas, em outras épocas, preservavam o cuidado da concretude, sem os artificialismos agora mais comuns. Hoje, nem se sabe exatamente quem será quem no processo, e os temores se avolumam desde o amanhecer.