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Previdência, tema que incomoda

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Asseguram porta-vozes credenciados, entre os quais o ministro Eliseu Padilha, que o governo federal tem enviado emissários aos possíveis candidatos à Presidência da República, na tentativa de obter deles, ainda que ociosamente, informações sobre a conduta que pretendem frente à reforma da Previdência Social. Quem for eleito, como gostaria de conduzi-la? A questão, de reconhecida importância, torna inaceitável admitir que um postulante à primeira magistratura não tenha, pelo menos, uma ideia formada sobre a imensa bomba que a Previdência representa hoje, e, com toda certeza, pronta para ser detonada e explodir no colo de quem, nos próximos quatro anos, comandar o governo federal. É uma razão a mais para que os candidatos tenham intimidade com as vulnerabilidades da estrutura desse serviço, e como haveriam de enfrentá-las. Segundo o ministro, que também promoveu consultas, nada se obteve de concreto sobre o pensamento dos candidatos. Eles preferem desconversar, quando arguídos.

A oposição sempre acusou o governo Temer de abusar da seriedade do problema, rotulando-o com uma gravidade acima do real. Problema sério, mas não tanto, diriam os contestadores. Mas, ainda que se exagerasse na pintura do drama, é impossível desconsiderar que os furos se ampliam e se agravam exatamente por não terem sido tratados em momentos convenientes pelos governantes passados. Por isso, é certo que se chegará a um ponto em que não mais será possível passar ao largo do problema, como o lamentável procedimento, recentemente adotado por deputados e senadores, que se omitiram, temerosos de serem antipáticos aos eleitores, se tratassem de uma Previdência enferma, a reclamar cirurgia profunda. Se todos correm de más notícias, muito mais o eleitor a quem se pede voto.

Os candidatos, ainda que se esforcem por serem apenas agradáveis, preferindo levar a campanha sem notícias que perturbem, têm de saber que a próxima gestão, qualquer que seja o nome consagrado pelas urnas, não terá como escapar da convocação e encarar a reforma, com todas as dores previsíveis, sob pena de o novo presidente deixar o sistema caminhar para o colapso total, esgotada sua capacidade de vencer a asfixia. É uma constatação da qual não há como discordar, sem a exclusão dos opositores.

Se fosse possível praticar um ato heroico, quando nada mais lhe restam além de sete meses, o governo Temer patrocinaria a retomada, ainda no segundo semestre, das discussões parlamentares sobre o futuro da Previdência Social. Nesse sentido, promete esforçar-se, mas são poucas as possibilidades de o tema prosperar em tão pouco tempo, mesmo que novas discussões se processassem quando a poeira da campanha já estivesse assentada. Sendo assim, os que forem eleitos, começando pelos deputados e senadores, nada teriam a temer, nem mesmo para atacar o ponto nevrálgico da questão, as aposentadorias milionárias. Essas, fator preponderante para explicar a crise. E, tanto mais injustas, quando se observa que contemplam exatamente os que menos precisam.

O fôlego da Previdência Social no Brasil, segundo persistente projeção dos especialistas, não teria mais de quatro anos para sobreviver, antes de fechar as portas aos beneficiários.

Preocupam o desinteresse, as evasivas e desconversas, quando temas prioritários são postos a apreciação e pedem definições, principalmente ao calor de uma campanha eleitoral. É tempo de os problemas virem à tona e os postulantes ao voto popular mostrarem com que propósitos pretendem enfrentá-los.