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Ciro e a alternativa de centro-esquerda

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O ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes, assim como Lula, chega à terceira tentativa de ser escolhido para dirigir a Nação. Como todo ser humano, Ciro traz consigo, numa campanha que dá indícios que será a mais radical entre todas, grandes virtudes como gestor público, mas também suas idiossincrasias, a começar por seu comportamento reconhecidamente radical contra os que radicalizam contra ele. Há quem goste, há quem diga que o Brasil precisa de homens públicos que enfrentem, de maneira radical, não apenas os opositores, mas aqueles que o provocam de forma sorrateira.

Ciro, assim como fez Brizola, admite que o Estado pode e deve oferecer uma escola de qualidade ao mais simples dos brasileiros. Esse tema, a educação, é o mais importante para qualquer debate e proposta dos candidatos. Ciro já traz com ele, do Ceará, a experiência de que é possível fazer uma revolução pela qualificação. As melhores escolas, a melhor educação proporcionada no país, encontram-se em seu estado, obra de seus governos. Eis um fato que já o qualificaria como postulante à presidência. Não se pode atribuir a Ciro desconhecimento em finanças públicas. Foi também, durante sua gestão no Ceará, que o estado nordestino zerou o déficit, gerando superávits que proporcionaram fortes investimentos em educação e infraestrutura. Mas, claro, não é o suficiente. Resta saber do candidato de centro-esquerda quais as propostas e os instrumentos que utilizaria para atingir o equilíbrio fiscal do governo federal e, assim, reverter a capacidade de investimento público.

Falta saber do candidato Ciro, dentre outros temas macroeconômicos fundamentais, o que ele propõe, de forma objetiva, e o que faria para zerar o déficit da previdência social. O ex-ministro, por outro lado, não propõe aventura no campo cambial, como fez Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, durante o governo Fernando Henrique, que, por decreto, congelou o câmbio. O resultado desse devaneio intelectual foi a quebra do país, que ficou sem um dólar de reserva. Gustavo Franco, hoje, além de rico banqueiro, é um dos formuladores do plano de governo do Partido Novo.

Certamente Ciro não adotaria o liberalismo proposto pelo economista e banqueiro Paulo Guedes, já apontado como ministro da Fazenda do capitão Jair Bolsonaro. Para Paulo Guedes, tudo deve ser privatizado, a começar pela Petrobras, empresa que descobriu, com tecnologia nacional, o pré-sal, a maior fonte de riqueza de toda a nossa história. O pré-sal é a redenção do povo brasileiro. 

Mas o que desejam os economistas fracassados, quando suas  teorias são colocadas em prática? Desejam apenas que se liquide, de uma vez por todas, a função do Estado. Ao contrário do que praticam todas as nações ricas, que colocam as estatais comprando ativos brasileiros. Ciro já disse que não permitiria essas aventuras no campo do patrimônio público; e, mais que isso, deixou claro que, havendo doação e privatização da Eletrobras, como agora, na calada da noite, propõem Temer e Moreira Franco, os compradores correrão o risco de verem a operação anulada por seu governo. Tal como fez Itamar Franco com a venda da Cemig. Neste caso, vale lembrar, a estatal mineira foi vendida para a AES, que tempos depois teve falência decretada nos Estados Unidos. A operação era armada no governo Fernando Henrique, tendo à frente a economista Helena Landau. Itamar Franco foi à Justiça e anulou, em defesa de Minas, a venda da estatal.

Outro tema de fundamental importância para a reversão do caos que se encontram as finanças públicas administradas pelo governo federal, é o compromisso programático, já anunciado por Ciro Gomes, de colocar limite de teto nas despesas dos juros que o país paga ao sistema bancário. Sem esse teto, longe de se pensar em calote, resta claro que se trata de algo saudável e factível. Prova disso - e aqui um ponto para Michel Temer -, é que as taxas de juros baixaram de 14% a.a. para 6,5%, mesmo com o déficit público subindo mês a mês. Não vimos, pelo menos até neste momento, qualquer economista ou “jornalista especializado” defender a tese de que as taxas de juros que paga o governo federal são altas porque o déficit é alto, sendo o governo o maior tomador da poupança nacional. O déficit continua aumentando e as taxas caindo. Com a palavra os economistas liberais e os jornalistas “especializados” em economia.

Portanto, além de necessário, é imprescindível que as propostas de centro-esquerda contemplem a forma de ajuste da previdência social, a implantação do teto para custeio da dívida pública e a geração de superávits, para que o estado possa investir em infraestrutura e educação. 

Resta a Ciro Gomes ser mais claro.