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Perversa intimidade nas alianças

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Sendo várias as semelhanças observadas na organização das campanhas eleitorais, principalmente as que vieram depois da Constituição de 88, não haveria de faltar, como não faltam agora, as escassas informações que os candidatos e os partidos oferecem aos eleitores sobre critérios adotados para o acerto das alianças. Sempre cercadas de algum mistério e muito segredo, como se ensejassem pouco pudor, talvez seja melhor, mesmo, não conhecer sua intimidade, segundo a observação cáustica de quem se considera familiarizado com os bastidores.

Um primeiro desgosto para quem aprecia transparência estaria nos esquemas que se montam em acordos sobre ocupação de tempo e espaço no rádio e na televisão, quando os candidatos, ávidos por alguns segundos, para propagar seus planos, cedem a interesses pessoais dos que têm poder para decidir em que direção caminhará o apoio. Isso custa dinheiro, com agravante de que os partidos raramente faturam com isso, porque as vantagens ficam com quem comanda os entendimentos. De tal forma, é sabido e confirmado que certos dirigentes fazem dessas negociações seu meio de vida. Deixam seus diretórios adormecidos, discretos, sem nada fazer, para ressurgirem na próxima campanha, e de novo negociar. Essa conduta velhaca não há quem possa desmentir, principalmente quando se trata de diretórios de partidos nanicos.

É de se notar que as influências nocivas nas alianças prosperaram nas mesmas proporções em que os recursos de comunicação e propaganda foram colocados à disposição das campanhas. É outra conclusão de difícil contestação. Antes de se tornarem benfeitores dos pleitos democráticos, contribuindo para serem mais e melhor conhecidos os candidatos e suas plataformas, os meios eletrônicos de comunicação ajudaram, inocentemente, a enriquecer atravessadores e inescrupulosos aproveitadores, que vendem o que as emissoras venderão indiretamente ao governo, pela via de cortes fiscais. Somos escassa e franciscanamente informados sobre os acertos, as bases em que prosperam e qual o quinhão de responsabilidades mútuas. No balcão em que se acertam detalhes, também ignoramos o potencial de votos acertados. Em 2014, terminada a eleição, o então PMDB garantia que, sem seus 3 milhões de votos, que tinha como rigorosamente contados, o PT teria perdido a corrida contra Aécio Neves. Seja como for, eis um exemplo de acordo circunstancial que, como se observa, pode transformar conformidade em adversidade.

Não cessam aí as preocupações em torno de alianças opacas, que ganham mais um grau de dúvida e suspeição quando, em vista de eleição majoritária, chega o momento da escolha do candidato a vice. Trata-se de um jogo, ao mesmo tempo pesado e sutil, pois, não raro, o nome imposto pela aliança desce goela abaixo do titular. E vice-versa.

A delicada teia em que se trançam os pactos para a formação da chapa presidencial não pode desconsiderar, de forma alguma, que o Brasil tem singularidade a recomendar cuidado especialíssimo, pois é, entre todos os países, o que mais consentiu o papel do vice na história republicana. Eles assumiram a Presidência 32 vezes, num total de 4 anos e 73 dias, sem contar Sarney, presidente acidental que governou um mandato inteiro. Nem o fato de titular e vice serem eleitos em chapa única (o que foi boa ideia) dispensa escolha cuidadosa, a fim de que se obtenha, nas urnas, um mínimo de unidade lógica entre eles. Para não se repetirem lições perigosas e desagradáveis de passado distante ou próximo, com os entreveros Deodoro-Floriano, Prudente-Manoel Vitorino, Getúlio-Café Filho, Figueiredo-Aureliano, Collor-Itamar, Dilma-Temer.

Nenhuma boa vizinhança é tão desejável como a palaciana, para os bons serviços do governo, como as relações entre o presidente e seu vice. De novo, estamos na hora de cuidar disso com atenção.