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Uma chance para os jovens

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Mais que as ações policiais, mesmo sendo essas indispensáveis na missão de assegurar a segurança pública, o emprego estável e remunerado pode contribuir, sensivelmente, para combater a violência urbana, abrindo oportunidades àqueles desviados por circunstância; se não for possível vencê-la, como seria desejável, cuidemos, pelo menos, de mantê-la em dimensões que não sejam essas que vemos hoje em todo o Estado do Rio. Basta conferir, se ainda se toma por duvidosa tal revelação, que o alto índice de desemprego e o crime têm relação explícita nas estatísticas e nos relatórios. A interventoria federal sabe disso. Comprova-se.

Reduzir as necessidades impositivas, pelo caminho da ocupação laboral, é, portanto, um objetivo a perseguir, em ritmo paralelo e não distante do trabalho policial. O que tem tudo a ver com este Rio, a reclamar um pouco de paz.

A sociedade nunca se decepcionaria; pelo contrário, poderá confirmar que a empregabilidade é um belo caminho; de forma que muitos dependentes das redes criminosas possam se libertar delas e trabalhar; beneficiados, igualmente, os que, premidos, correm o risco de entrar na vida dos delitos.

O que está a sugerir voto de confiança ao acordo que na semana passada foi acertado entre os ministérios da Cultura e da Segurança Pública, destinado a somar recursos para convocar a mão de obra de jovens de vários pontos periféricos, com previsão de ocupação de oito mil deles, todos em condições latentes de vulnerabilidade. Vão atuar em projetos de diferentes segmentos artísticos, o que serviria até para a revelação de novos talentos.

Talvez não tenham sido suficientemente comparadas, mas as conclusões a que neste particular chegaram outros países recomendam algo similar para a vida dos cariocas, mesmo que seja para uma fase experimental. Em lugares distantes, como aqui, a juventude da atualidade, subjugada a uma poderosa carga de apelos para o acesso ao conforto e ao divertimento oferecido pelos atraentes recursos tecnológicos, não tem muito como suportar sua ausência nesse mundo. Sente-se excluída e humilhada ante a comparação com os que podem. Desempregada, sem horizontes imediatos, torna-se alvo das enganosas facilidades que as organizações criminosas oferecem. Ou não tem sido assim? 

O poder da necessidade já foi objeto de estudos, em diferentes épocas, e quase sempre concluiu-se que ela pode levar a consequências muito desagradáveis. “Tão facilmente desaparece a moralidade, sob pressão da necessidade”, ensinou Oliveira Lima, num ensaio sobre a formação histórica da nacionalidade brasileira. O historiador esforçava-se para explicar o coronel Camisão, na Guerra do Paraguai, quando a necessidade teria justificado a ordem covarde de abandonar feridos e doentes (um parêntese, só justificável para mostrar que a necessidade não deve obediência a limites).

Tudo a ver, portanto, com a intenção de compatibilizar o combate à violência com a oportunidade de emprego e alguma independência financeira aos jovens, a partir de 14 anos, muitos deles vítimas diariamente expostas ao crime; e pelo crime atraídos como forma de ganhar dinheiro fácil, mesmo que perigoso e quase sempre trágico. Salve-se a juventude, com a dignidade do trabalho, ficando a cargo da polícia e da Justiça os criminosos. 

É possível – quem sabe? - que esse projeto a ser implantado no Rio sirva de modelo e inspiração para o resto do Brasil.