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Relações altamente suspeitas

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Com a retirada do ministro Helton Yomura da pasta do Trabalho, depois de se ver instado a deixá-la, frente à denúncia de graves irregularidades, abre-se excelente oportunidade para ampla investigação sobre as relações governamentais com os sindicatos e suas confederações, que, aliás, sempre prosperaram sob notórios descompromissos com princípios republicanos. O governo não consegue manter o mínimo de autoridade para negociar com essas organizações, que se acostumaram, não é de hoje, a ter o Ministério do Trabalho como um mero departamento sindical. Essa triste realidade ficaria demonstrada e comprovada, na semana passada, quando o ex-deputado Roberto Jefferson, cansado de patrocinar indicações frustradas, anunciou que estava “devolvendo” o ministério ao presidente da República; tal como se fosse propriedade privada dele e do PTB, que preside. 

Para uma tentativa de regularizar e tornar sadias essas relações, instruídas em bases de respeito mútuo, é preciso aproveitar o bom momento do afastamento do senhor Yomura, que sai por determinação do Supremo Tribunal Federal, depois de ter sido submetido a investigações da Polícia Federal sobre fraudes e corrupção, durante o tempo em que ocupou o cargo. O lastro das irregularidades agravou-se no momento em que a Corte anunciou, concomitantemente, a prisão temporária do chefe de gabinete. Revelou-se o dedo de uma rede operacional para atividades suspeitas.

Mas sabendo-se pouco provável que o destino dos acusados seja logo definido pela Justiça, faça-se, então, o que seria justo e oportuno, em nome da moralização das entranhas do governo: cavar fundo nos desvios daquela pasta, que trabalha mais para quem não trabalha... 

A recente demissão mostrou novo capítulo da errática condução do Ministério do Trabalho no atual governo, sem que tenha sido santa nas gestões anteriores, graças ao deplorável destino desse setor de limitar-se a instrumento de recompensa e consolo para políticos derrotados ou sindicalistas influentes. Além de levar o Planalto a situações de desgastantes constrangimentos; não diferentemente, em passado recente, houve aquele imbróglio envolvendo a deputada Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson. Ela seria ministra, não se insurgisse contra sua posse uma associação de advogados, levando a nomeação a ser questionada na Justiça. Depois de um período de agonia, a pretendente declinou do convite, mas o partido não abriu mão de indicar um substituto, pois se considerava dono do cargo.

Pelo que sempre se revelou patente, o Ministério do Trabalho ficou condenado a servir a interesses de grupos ligados a uma parcela do sindicalismo brasileiro, e, por essa via, muitas negociatas aconteciam para a concessão de cartas sindicais; ou seja, outorgar autorização para a existência das entidades. Devem estar muito preocupadas, pois, com a extinção do imposto sindical, várias fenecerão. Aptos a sobreviver, apenas os que conseguirem se manter com a contribuição de associados. Secou a grande mãe, gerada pelo desconto compulsório praticado sobre os salários dos trabalhadores. A tentativa de reintrodução do imposto, segundo projeto de lei encaminhado ao Congresso, não sinaliza com êxito para breve, prevendo-se, com isso, mais uma prova de resistência para o sucessor do presidente Temer.

Não custa lembrar – e aqui ocorre um dado para corroborar a longa história de desvios - que o Congresso Nacional conhece incontáveis casos de sindicalistas que chegaram a ter mandato legislativo com o suporte das verbas e da máquina sindical. Prudentemente, os atuais deputados cuidaram de podar as asas de poderosos daqueles concorrentes  beneficiados com as verbas que fazem desiguais as armas em disputa.