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De fraturas, parafusos e paixões

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 No mesmo dia em que Neymar foi operado para colocar um parafuso no quinto metatarso do pé direito, me vi enfrentando um drama do gênero, com uma contusão ainda mais grave: fratura do fêmur, obrigando igualmente a uma cirurgia para colocação de parafuso e enxerto ósseo. Não, não fui eu quem se quebrou, mas doeu como se fosse. Quem tomou um tombo, de uma altura considerável foi um dos meus cães, o Banzé.

Explico: desde que decidi me aposentar e passei a morar em Itaipava, logo após as Olimpíadas do Rio, em 2016, me dediquei a criar pastores alemães, raça que adoro. Hoje em dia tenho dez deles, fora os filhotes que já dei para amigos ou vendi. Você está estranhando um pastor puro-sangue ser chamado de Banzé?

Explico de novo: embora seja criador de PAs, tenho também, em casa, cachorros de outras raças: um labrador, um golden retriever, uma dogue alemã e ... dois vira-latas adotados da rua. Banzé é um deles. Entrou durante uma obra que se estendeu por um ano e nunca mais saiu. Bem, nunca mais é força de expressão. Pois, vira-lata que é, nascido e criado nas ruas, sempre dá um jeito de escapulir e, por vezes, passa dias sumido. Mas sempre volta.

Esse seu gênio cigano já me causou problemas (adora invadir a casa dos vizinhos e, embora não faça mal a uma mosca, há sempre quem reclame). Seu jeito típico de malandro carioca, porém, acabou conquistando o meu coração e os de toda a minha família, bem como os dos meus amigos que acompanham suas aventuras na minha página no Facebook.

Em sua constantes escapadas de Ponderosa (o nome do meu sítio), Banzé já organizou “bondes” com a Jujuba (a dogue alemã) e a Pretinha (a outra vira-lata adotada) e tocou terror no condomínio, invadindo, certa vez, a casa de uma pobre senhora, que mora aqui perto e quase morreu do coração ao ver irromper, de repente, em sua sala, o trio de meliantes, principalmente, óbvio, por causa do tamanho da Juju – que é inofensiva, mas adora lamber a cara dos outros, com aquele seu linguão gigantesco.

Por causa dessas travessuras, eu e meu caseiro procuramos minuciosamente e fechamos todos os buracos nas cercas e muros (muitos deles feitos pelo próprio sem-vergonha), conseguindo evitar assim que o “bonde” continuasse circulando. Jujuba e Pretinha não fugiram nunca mais. Já o Banzé...

Ele escala telas, como se fosse um gato. De cima delas, se atira e cai no mundo. Como vai e como volta já desisti de saber. Estou convencido que se trata de uma versão canina de Houdini - aquele ilusionista que abria qualquer cadeado, conseguia se livrar de correntes, embaixo d’água, sair de cofres soldados etc.

O cara é tão folgado que, quando vou passear pelos arredores, com alguns pastores, na coleira, ele nos acompanha, solto. Ora, some na estrada à nossa frente, ora se embrenha no mato, mergulha no rio ou na lagoa existentes em haras vizinhos, enfim, pinta o sete, matando de inveja os outros, que não posso deixar sem a guia.

De vez em quando, nesses passeios, Banzé desaparece e, de repente, volta correndo, perseguido por um bando de cachorros enfurecidos, das outras casas, ou da rua mesmo, que ele provocou. O que faz, então, o safardana? Se mete entre os pastores, de onde passa a latir para os que o perseguiam, cheio de coragem. É claro que, diante da tropa de elite, os “inimigos” imediatamente dispersam...

Ele é, na verdade, endiabrado e “liso” como o Neymar. E, como o craque, brasileiro, resolveu me pregar esse susto. Pulou (ou caiu) de uma marquise alta da casa e fraturou o fêmur da pata traseira esquerda. Agora, vai ser um sufoco esse período de recuperação, irrequieto e bagunceiro como ele é. Mas, tal qual garantem os médicos que operaram o craque-maior da seleção e do Paris Saint-Germain, o prognóstico é de reabilitação total.

Que assim seja, porque, confesso, estou muito mais preocupado com o restabelecimento do Banzé do que com o do Neymar (pelo qual também torço, hein!). Se você é “cachorreiro” como eu, certamente entenderá.

De bola, volto a falar, amanhã.