ASSINE
search button

Uma deusa jantou lá em casa

Compartilhar

Na mitologia grega, Plauto engendra o pernoite do deus Júpiter em casa da bela Alcmena, para conquistá-la, fazendo-se passar por seu marido ausente, Anfitrião. Texto que inspirou nosso dramaturgo Guilherme Figueiredo a escrever a peça Um Deus Dormiu Lá Em casa, em que é Anfitrião que se apresenta de volta da guerra, como a encarnação do Deus Júpiter, para sondar a fidelidade de Alcmena. Tudo isso é teatro, e só podem ter sido esses mesmos deuses do teatro que inspiraram a noite fluida e afetuosa, que nos envolveu terna e cheia de seduções, fazendo, daqueles momentos de quinta-feira, horas suspensas como que num vácuo de beatitude. 

E voltando à trama teatral, qual seria sua sensação se um Deus jantasse em sua casa? Ou uma Deusa? Ou se você fosse convidado a jantar com uma Deusa do teatro emoldurada pelo mais belo dos cenários que a criatividade humana possa conceber, aí incluídos os objetos de cena decorativos mais raros e preciosos? E se nesse elenco de convidados estivessem incluídas inteligências espirituosas como Jaqueline Laurence Ricardo Linhares, observadores argutos como Roberto Halbouti e Arnaldo Niskier, realizadoras culturais como Myrian Dauelsberg e Ana Botafogo, primeira bailarina do Brasil, além de um ex-ministro que botou o dedo na ferida, como Marcelo Calero?  

Naturalmente que a Deusa a que me refiro é à Deusa da cena brasileira, Fernanda Montenegro. O Anfitrião é nosso Carlos Alberto Serpa, com a impecável Beth. O Cenário é seu apartamento de colecionadores, que cada vez eles mantêm mais preservado, só o abrindo para ocasiões muito especiais, como celebrar Fernanda, em noite de lugares marcados, menu personalizado, louça Vista Alegre, com o jogo americano bordado igual, rosas brancas. E houve o mais inspirado e fluente entre todos fluentes e inspirados discursos de Carlos Alberto Serpa. Lembrando que Fernanda completará, no ano que vem, 90 anos de vida, 84 anos de teatro, iniciados aos 6 anos, numa estação de águas com a família, em Araxá, onde ela entrou no palco, com outras crianças, como libélula. 

E naquele exato instante Serpa teve a ideia original de presentear Fernanda com um lindo broche em forma de libélula, que o advogado Halbouti gentilmente a ajudou a espetar no casaco. Estava instituída a “Ordem da Libélula”! Afinal, Fernanda será a Grande Homenageada do Prêmio de Teatro Cesgranrio em 2019. A condecoração procede. Fernanda agradeceu falando da visita que fizera à Fundação Cesgranrio e de como ficara impressionada com a quantidade de projetos culturais desenvolvidos pela instituição, chegando a comparar Serpa ao grande mecenas americano Rockefeller: “Ele é o nosso Rockefeller”. A Deusa estava feliz. A Deusa estava sorrindo. E quando os deuses sorriem o mundo se ilumina. Saímos de lá flutuando. Até nos esquecemos do momento de trevas e dificuldades por que passa o Brasil. Encantamento de Deusa.

Com João Francisco Werneck