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Airbnb e Uber não são economias compartilhadas

Pesquisadora e pós-doutora pela Coppe-UFRJ, Dora Kaufman fala em seminário do Cetur/CNC

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A pesquisadora do Centro de Pesquisa em Redes Digitais Atopos ECA/USP e pós-doutora pela Coppe-UFRJ, Dora Kaufman abriu o seminário Impactos da Economia Colaborativa – Alimentação, Transporte e Agências de Viagem, falando sobre os novos cenários econômicos e as tecnologias digitais e impactos que geram na sociedade. O seminário faz parte do ciclo de eventos Turismo – Cenários em Debate, organizado pelo Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que acontece hoje, 7 de agosto, no Rio de Janeiro. 

Alexandre Sampaio, presidente do Cetur/CNC, participou do evento destacando que esse é o terceiro seminário que o Conselho realiza este ano para debater temas cruciais para o crescimento e a sustentabilidade do setor, como os impactos da economia colaborativa e o turismo esportivo. “É essencial entendermos como as inovações podem se aliar às estruturas já existentes e contribuir para o crescimento econômico”, afirmou Sampaio. 

Dora Kaufman começou pontuando que a colaboração faz parte da convivência em sociedade, sempre existiu e não só entre pessoas, mas entre os seres vivos. Segundo ela, diversos pesquisadores demonstram que a colaboração é uma tendência dos indivíduos, inclusive nas empresas em que a cultura interna estimula a cooperação. “Até mesmo na cadeia produtiva, a parceria entre os setores produtivos também se acentuou. Então o que é novo? As novas tecnologias permitem que a colaboração não dependa da proximidade física, apenas dos interesses comuns, e ocorrer a distância, isso é o novo”, afirma Dora.

Segundo a pesquisadora, as transformações na sociedade acontecem não apenas por um fator, mas por um conjunto de fatores que convergem para uma mudança. Ela aponta a crise do capitalismo, mudanças culturais e tecnologias digitais como responsáveis pela proliferação de novos modelos de negócio e novas oportunidades para indivíduos, instituições e empresas. “Os economistas estão chamando de economia híbrida a convivência entre a indústria tradicional – ainda predominante na geração de riqueza na economia – e a economia colaborativa ou compartilhada, que é considerada quando, de alguma forma, no modelo de negócio há colaboração”, destaca Dora Kaufman. 

Para ela, aplicativos como o Airbnb e o Uber não podem ser considerados exemplos de economia compartilhada ou colaborativa. “O Airbnb e o Uber, assim como a Amazon, são modelos de negócio. Não tem diferença, do ponto de vista da natureza dos negócios, eu alugar meu apartamento por três dias, por setenta dias ou um ano. Existem corretores que administram vários imóveis que são alugados pelo Airbnb. O dono não disponibiliza sua casa em troca de outro imóvel, não é a mesma coisa que eu disponibilizar carona no meu carro e dividir custos”, destaca.

“Hoje, o Airbnb é a segunda maior empresa de hospedagem do mundo, não é uma startup, é uma potência. E isso impacta diretamente a hotelaria, que pressiona por uma regulamentação, e altera até mesmo a configuração dos bairros. Por exemplo, em Berlim gerou a gentrificação de áreas, e esse é um dos milhões de impactos não diretos desses novos negócios”, concluiu Kaufman. 

Ela finalizou a palestra lembrando que as empresas, não apenas as tradicionais mas também as startups e as plataformas, precisam se estabelecer por meio de um diferencial