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Em Ostia, série 'Suburra' não é ficção

Eleição no distrito apontou semelhanças com atração do Netflix

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As eleições em Ostia, populoso distrito litorâneo de Roma, realizadas no último dia 5 de novembro, repercutiram em toda a Itália por causa dos tentáculos que unem máfia e política e mostraram que a série "Suburra", lançada pelo Netflix em outubro, não é totalmente ficção.

Inspirada em um livro homônimo, a atração, que está em sua primeira temporada, narra a história de três jovens, Aureliano, Spadino e Gabriele, que tentam, cada um a sua maneira, sobreviver em meio às disputas de poder em Roma.

"Suburra", nome tirado de um vale situado no centro histórico da "cidade eterna", retrata as ações da máfia, de famílias ciganas, traficantes de drogas, políticos, nobres e do Vaticano para garantirem seu quinhão no projeto de construção de um porto em Ostia.

É ficção, mas não muito longe da realidade. O distrito entrou no noticiário no último dia 5 de novembro, quando foi às urnas para escolher seu novo presidente, após o governo italiano ter dissolvido a administração local por conta de suspeitas de infiltração da máfia no poder público.

Mas o que chamou mais atenção não foi a passagem dos candidatos do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e do conservador Irmãos da Itália (FDI) para o segundo turno, e sim a ascensão do partido neofascista CasaPound, que ficou em terceiro lugar, com 9% dos votos.

Seu candidato, Luca Marsella, recebeu apoio explícito de Roberto Spada, preso por agredir uma equipe da "Rai" na semana passada e irmão de Carmine Spada, condenado por extorsão com método mafioso - a família seria uma das que estavam infiltradas no governo de Ostia.

Roberto, até então com ficha limpa, dava aulas gratuitas de boxe para jovens do distrito e ajudava a encontrar moradia para quem perdera sua casa. O assistencialismo o unia ao CasaPound, que distribui alimentos para famílias em dificuldade, mas apenas para as italianas.

No litoral romano, a relação entre clãs de nômades italianos e o candidato Luca Marsella foi imortalizada em uma foto na qual Roberto Spada e o postulante neofascista se abraçam sorridentes.

"Tiro fotos com centenas de pessoas", minimizou Marsella, condenando a máfia e a ilegalidade.

Em 2012, o então líder do movimento em Ostia, Ferdinando Colloca, depois sentenciado por corrupção com agravante de método mafioso, fez uma sociedade com o genro de Armando Spada, expoente de peso do clã. Com a cumplicidade do ex-diretor do Escritório Técnico distrital Aldo Papalini, eles assumiram um estabelecimento ao tirá-lo de seu antigo proprietário. Por ter denunciado o caso e por ter assistido a um tiroteio envolvendo dois Spada, a repórter do jornal "la Repubblica" Federica Angeli vive sob escolta há vários anos.