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Trump urge a aliados da Otan que dupliquem compromisso em gasto militar

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou nesta quarta-feira (11) a pressão sobre os seus aliados da Otan, aos quais urgiu durante uma tensa reunião de cúpula em Bruxelas a duplicar o seu compromisso em gasto militar nacional e alcançar 4% do PIB.

Esse objetivo parece, por enquanto, distante, principalmente quando somente oito dos 29 países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) cumprem com o objetivo marcado em 2014 em Gales de se aproximar de 2% do PIB de gasto militar nacional em uma década, e nenhum chega aos 4%.

"Durante a sua intervenção na cúpula da Otan, sugeriu aos países que não apenas cumpram com o seu compromisso de destinar 2% de seu PIB ao gasto em Defesa, mas que o aumentem para 4%", assinalou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

O presidente dos Estados Unidos, cujo orçamento militar alcança 3,5% do PIB e cujas contribuições diretas ao orçamento da Otan representam 22% do total, "quer que os aliados dividam mais a carga e, como mínimo, cumpram com as suas obrigações", acrescentou.

Sem surpresa, o inquilino da Casa Branca marcou desde a manhã o tom da reunião, ao assegurar durante um café da manhã de trabalho com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que seu país pagava "demais" à Aliança.

Além dos Estados Unidos, apenas quatro países europeus - Grécia, Estônia, Reino Unido e Letônia - cumprem com o objetivo de Gales. Polônia, Lituânia e Romênia também poderiam alcançá-lo ainda este ano, segundo cifras da Otan.

Os países da Otan tentaram minimizar a intervenção do líder da primeira potência militar do mundo. "É um posicionamento típico de Donald Trump", "faz parte parte de sua linguagem clássica sobre o assunto", disse a Presidência francesa.

Questionado sobre o novo objetivo sugerido por Washington, o chefe da Aliança preferiu se esquivar, defendendo que se focaram no comprometimento com o desafio dos 2%. "Comecemos com isso. Temos um caminho a percorrer", assegurou.

Os aliados expressaram assim na declaração da cúpula o seu "compromisso inquebrantável" com os objetivos de aumento de gasto, entre eles os 2%, e apontaram que apresentarão "planos nacionais críveis" sobre a sua implementação.

- Alemanha, 'prisioneira da Rússia' -

Os sinais enviados por Washington nos dias anteriores à cúpula anunciavam uma atitude dura de Donald Trump, mas ele surpreendeu durante a manhã por sua crítica à Alemanha por comprar gás da Rússia, inimigo número um da Otan.

"A Alemanha está prisioneira da Rússia porque recebe muito de sua energia", "pagam bilhões de dólares à Rússia e nós temos que defendê-los da Rússia", declarou o presidente americano, que vinculou a segurança à questão energética.

O pano de fundo de suas declarações mostra a sua oposição ao projeto de gasoduto Nord Stream 2, que duplicará a partir de 2020 a distribuição de gás entre Rússia e Alemanha pelo Báltico, e sua vontade de impor o gás de seu país na Europa.

Após tentar alcançar o seu objetivo na disputa comercial com os europeus, que terminou em uma aberta guerra comercial, Trump mudou de estratégia e vincula a questão energética à ideia de segurança na Aliança Atlântica.

"Para que serve a Otan se a Alemanha paga à Rússia bilhões de dólares pelo gás e pela energia? (...) Os Estados Unidos estão pagando pela proteção da Europa, mas perde bilhões em comércio", tuitou à tarde.

A chanceler alemã, Angela Merkel, que se reuniu com Trump, defendeu o direito de seu país de tomar as próprias decisões, fazendo alusão ao fato de ela mesma ter experimentado no passado como uma parte da Alemanha "era controlada pela URSS".

Donald Trump reforçou assim a sua crítica à primeira economia europeia, que está na sua mira por conta de seu excedente comercial e por não dedicar, na sua visão, o suficiente ao seu gasto militar nacional (1,24% do PIB em 2018).

Apesar de não integrar a organização criada em 1949 para responder à influência da União Soviética depois da Segunda Guerra Mundial, a Rússia de Vladimir Putin, com quem Trump se reunirá na segunda-feira em Helsinque, esteve muito presente.

A anexação em 2014 da península ucraniana da Crimeia pela Rússia supôs um momento-chave para a Otan e os europeus. A Aliança adotou o objetivo dos 2%, um compromisso especialmente cumprido pelos vizinhos bálticos da Rússia.

Diante de seu ameaçador vizinho oriental, os 29 líderes da Otan respaldaram na cúpula o seu plano "30-30-30-30", que prevê que, para 2020, a Otan pode mobilizar em 30 dias, 30 batalhões, 30 esquadrões aéreos e 30 navios de guerra.

Após um jantar de trabalho no parque do Cinquentenário no bairro europeu de Bruxelas, os líderes continuarão na quinta-feira com o segundo dia de cúpula, na qual se reunirão com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko.