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Nem chocolate nem canivetada

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SOCHI - Houve um momento, ainda antes do gol brasileiro, que me belisquei na tribuna da Arena Rostov. 

O time vermelho não era o da União Soviética e no amarelo não estavam Falcão, nem Zico, nem Sócrates, Cerezo ou Júnior e Leandro. Eu também não estava mais em Sevilha, na Espanha, e sim na Rússia. 

Mas dos 10 aos 20 minutos, hora do golaço de Philippe Coutinho, Marcelo, Willian, Gabriel Jesus e o autor do 1 a 0 jogavam por música, de um jeito agradabilíssimo de se ver. O gol foi mera coroação de minutos de magia. 

Era só manter, porque os suíços pareciam convencidos de que não tinham como enfrentar aquele toque de bola. Então, o time brasileiro resolveu entregar a bola para eles que, mesmo sem levar perigo, a não ser numa presepada de Marcelo, puseram os nervos em ordem.

Puseram e voltaram para o segundo tempo com a sorte de achar um gol em cobrança de escanteio e um ligeiro empurrão do autor, Zuber, em Miranda.

O mexicano assoprador de apito preferiu não usar o VAR, certo de sua infalibilidade, atitude pela qual deve ter se arrependido ao chegar de volta ao vestiário. Mas não foi por causa dele que o jogo terminou num empate razoável, em jogo que o time de Tite jogou melhor, embora não o suficiente para fazer o segundo gol, mesmo que tenha criado pelo menos três chances claríssimas para tanto. 

O que não anula a frustração nem o sabor amargo de quem imaginava uma vitória categórica para iniciar a caminhada em busca do hexacampeonato. 

Em 1982, apesar de todos os craques, quem saiu na frente foi a URSS, para tomar a virada com os gols de Sócrates e de Éder. Agora, o 1 a 1 marca o terceiro empate brasileiro em estreias em Copas do Mundo, mau presságio apenas para os supersticiosos, porque nas cinco conquistas brasileiras a estreia terminou vitoriosa. Enfim, nem chocolate, pois seria mesmo demais, nem canivetada, uma enorme injustiça. 

Um tropeço que deve ser tratado como tal, sem drama numa Copa do Mundo em que o empate da Argentina se deu contra a Islândia e a Alemanha perdeu para um México jogando como sempre e ganhando como nunca.

Lembremos de que se tratou do jogo de melhor ranking da fase de grupos da Copa e não nos esqueçamos de uma dura realidade: faz tempo que seleções brasileiras não jogam o melhor futebol do mundo. E mesmo quando jogou, como em 1982, perdeu.