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Onde está a comoção internacional pelas crianças assassinadas na Nigéria ? 

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A imagens na internet são insuportáveis. São dezenas de cadáveres de corpos carbonizados. A violência sofrida na noite do último sábado (30/1 ) no vilarejo de Dalori, será inesquecível. O local, que fica há apenas cinco quilômetros de Maiduguri, maior cidade do nordeste da Nigéria, foi palco de mais um atentado terrorista orquestrado pelo Boko Haram. 

Esse foi mais um ataque dos que desejam formar um califado no norte do território nigeriano. Ano passado, o Boko Haram estreitou seus laços com o Estado Islâmico e a partir de um juramento viralizado na internet em 2015, podemos ver que os extremistas ameaçaram matar todos os cristãos do país. Foram contabilizado neste último ataque 86 mortos, sendo maioria crianças e adolescente.

Enquanto a mídia foca nos atentados na Europa, nos bombardeios no Oriente Médio e no caos implementado pelo Estado Islâmico, o continente africano sofre um genocídio. Estima-se que a guerra na Síria e no Iraque matou desde 2011 cerca de 300 mil pessoas e gerou cerca de dois milhões de refugiados. Segundo a ONU, o número de mortos na Nigéria é superior e mais de 2,5 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas no norte da África desde 2013. Os extremistas  do Boko Haram são considerados o grupo terrorista mais mortífero do mundo.

O incômodo e a inconformação que trago como reflexão é o silencio dos grandes veículos de comunicação internacional. Me pergunto por que o mundo lamentou as vítimas do atentado a Paris em 13 de novembro de 2015, e nem sequer lamenta pelas mortes na Nigéria? 

Enquanto o mundo lamentava as 132 vidas perdidas na França, o Boko Haram matou pelo menos 50 pessoas em dois ataques em menos de 48 horas, nos dias 17 e 18 de novembro, após um ataque suicida em um mercado de vegetais e em um outro ataque no centro de telefonia popular.

O racismo estruturante atrelado ao capitalismo selvagem incide diretamente na formação da opinião pública. Digo isto por compreender que os fatores da invisibilidade do genocídio nigeriano estão diretamente ligados aos interesses eurocêntricos. Primeiro por saber que historicamente o povo africano serviu ao mundo apenas para garantir a manutenção do modelo econômico escravista dos 500 anos de escravidão. Segundo por entender que o conflito sírio não é apenas um conflito étnico religioso, mas sim um conflito determinante para decidir quem ficará com os lucros dos milhares de barris de petróleo ali produzido. 

Ver meus pares serem exterminados da face da terra gera uma dor inenarrável. Permanentemente em oração, me uno aos irmãos e irmãs que estão sucumbindo na África, rogando a Deus por compaixão e pedindo aos homens e mulheres de boa vontade que percebam que a Europa não é o centro do mundo e que as vidas tiradas pelo fundamentalismo na África são tão importantes como outras vidas. 

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.