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PT lidera preferência do eleitorado 

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PT lidera a preferência partidária dos eleitores desde 1999 e voltou a exercê-la, em 2017, com folga. Diante dos dois problemas centrais enfrentados pelo partido em 2015-2016, a exposição midiática de seus líderes na Lava Jato e a deposição de Dilma Rousseff, como ele voltou a ser o preferido? 

O Datafolha iniciou a pesquisa de preferência partidária em 1989. Em agosto de então, o PMDB liderava com 12%; apenas 6% preferiam o PT. Mas os resultados finais inverteram-se: o pemedebista Ulysses Guimarães teve só 4,73% dos votos no primeiro turno e Lula, com 17,18%, foi à disputa final com Collor. Avaliar indicadores de identificação partidária requer cautela. 

Após empatar com o PMDB em 1996-1998, o PT tornou-se líder em 1999, com 15%, seguido pelo PMDB (12%). Em 2000, superou os 20%; em 2002, quando Lula se elegeu, possuía 23% da preferência. Aqui, cerca de 60% dos eleitores não prefere nenhum partido, mas a desconfiança no sistema representativo é generalizada nas democracias. No primeiro turno de 2002, Lula teve 46,44% dos votos, o dobro das preferências do PT. Em 2005-2006, durante a Ação Penal 470, o PT caiu: 24% em 2004, 16% no início de 2006. Mas Lula reelegeu-se e o partido reagiu, alcançou 25% em ago./2010, ano em que Dilma venceu pela primeira vez. A preferência petista caiu das manifestações de junho de 2013 à deposição de Dilma. Mas caiu, sobretudo, em 2015-2016, afinal, Dilma reelegeu-se em 2014. Em mar./2013, o PT era o preferido de 29%; em out./2014, pontuou 17%. Em jun./2015, no breve Dilma II, caiu para 11%, indicando um PT abatido; e os tucanos, no auge, somavam 9%. Em dez./2016, ainda fraco, o PT seguia na 

liderança, mas regredira a um dígito, 9%, e acabara de se dar mal nas eleições municipais. Em 2017, retomou a ascensão e chegou a 21% em dezembro. Diante das crises da representação e de legitimidade do sistema político, da baixa identificação partidária e dos ataques sofridos, é significativo o PT percorrer essa trajetória. 

A partir de 1994, dois partidos foram se firmando nas eleições presidenciais: PSDB e PT. Eles estruturaram a disputa política. A coalizão PSDB-PFL-PTB, nas eleições daquele ano, conformou a centro-direita;  a coalizão PT-PMDB, costurada por Lula, constituiu a centro-esquerda. Com a passagem do MDB para a direita neoliberal, o centro desencorpou-se. A ponte da direita está dividida. 

Mas a preferência pelo PT persiste. Explica-se pela mobilidade social ascendente induzida por seus governos. Em 2017, Lula fez caravanas regionais, a máscara do governo caiu, a ascensão social virou declínio, o Câmara salvou Temer de processos penais, os eleitores e o PT rejeitaram as reformas ultraliberais, a seletividade do Judiciário desnudou-se. O PT tem dois trunfos: um candidato imbatível, sendo aqui o voto presidencial estratégico e peculiar; e lidera com folga a preferência dos eleitores. Para o PT cair, excetuando a violência, precisaria perder corpo no movimento sindical e popular e nas instituições políticas (governos municipais e estaduais e parlamentos da federação). Ao perder tais estruturas, estaria caindo na preferência partidária e nos votos dados nas urnas. Mas ocorre o oposto. Segundo Marcos Coimbra, Lula vence as eleições até se estiver preso. O PT errou e paga caro por isso. Precisa repensar a atuação, as bandeiras, as alianças, renovar as lideranças (Lula não é imortal), mas não será com cruzadas por sua criminalização que perderá significado. O PT não desaparece da consciência popular, nela se abriga. Por quê? Por representar a vontade nacional organizada de superação da desigualdade secular. Quem é maltratado pelo mercado depende da política para corrigir as injustiças. A relação com a política não é idêntica para todos os grupos sociais, embora essa dinâmica possa variar conjunturalmente.  

*Professor do Departamento de Ciência Política da UFF