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O mal-estar da civilização

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Estamos esgarçados enquanto sociedade. Cada indivíduo preocupado com o seu bem privado, o bem público - que agora nos esvai - não era de ninguém e perdemos a oportunidade de cuidar do que nos é comum. O que é urbano, coletivo, o que é humano. Não me refiro só à pauta de direitos humanos, mas ao indivíduo, o que nos identifica como seres humanos. Somos um só – tal como na música dos Tribalistas, somos comunistas e capitalistas, anarquistas, o patrão, a justiça, o ladrão, somos todos eles, da ralé ou da realeza. Estamos todos no mesmo barco furado. 

Para repensar o que queremos para o futuro da humanidade, temos de recuperar o princípio de fragilidade humana, que nasce da evidência de que não somos ninguém -pobres ou ricos, diante da morte, da perda, da dor – para, a partir de então, se restabelecer regras básicas de convívio. Na família e na sociedade. O princípio grego de hospitalidade, por exemplo, o prazer de hospedar o outro, acolhê-lo; mesmo que virtualmente, conceitualmente. Valorizar e respeitar nossos próprios sentimentos, assim como os dos outros, porque no fim o que mais nos importa são os afetos. A promessa feita nos últimos séculos pela ciência de um mundo sem sofrimentos, de paz e prosperidade tornou o ser humano muito arrogante. Nós economistas então, nem se fala. Como chegamos aonde estamos?

O mundo está muito polarizado, entre direita e esquerda, entre povos de diferentes religiões, entre as diferentes partes interessadas da sociedade. Há teses em excesso, muitos interesses dispersos, mesmo quando legítimos. Fora os que só agem em interesse próprio, lucrando em nome de “causas” nobres – tais como a pobreza –, e assim impedindo as engrenagens de girarem em favor da vida, da prosperidade, do bem viver. A política foi tomada por corruptos, judicializada e agora se torna um novo ramo de negócios. Tornamo-nos muito ineficientes enquanto sociedade, fomos cuidando de assuntos específicos e acabamos só trabalhando nas “bordas” do sistema, esquecendo do que nos é mais comum. E é justamente desse comum que temos de partir.

Venho usando um diagrama para expressar este esgarçamento da sociedade, dentre várias outras aplicações. É um Sistema de Mandalas, elaborado a partir da experiência do Pacto do Rio (www.pactodorio.com.br), que serve para propor um modelo de desenvolvimento territorial coletivo, de baixo para cima, ou seja, a partir das reais necessidades da população. Esse símbolo geométrico que se forma no centro do diagrama, descobri depois, é conhecido desde muito antigamente como “a flor da vida”. Aplicando um mapa de riscos urbanos no mesmo diagrama, é neste espaço que devem estar os projetos prioritários da sociedade. Uma flor da vida para cada território. Piegas e pretensioso? É o que escuto da academia desde a minha monografia de graduação. Boa parte devido a ela é que chegamos aonde estamos. Vou tentar explicar em linguagem técnica o modelo de desenvolvimento territorial no próximo Domingo.