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Grandes bancos e grandes negócios 

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Em 2010, a decisão do então presidente norte-americano Barak Obama de levar adiante o polêmico plano para salvar alguns dos maiores bancos do mundo da crise iniciada em 2009 foi um recado: não há nação forte sem um sistema fi nanceiro forte. O modelo de fi scalização prudencial adotado no Brasil foi festejado e os bancos brasileiros se mostraram saudáveis para enfrentar o terremoto global. 

Mas será que há limites para tanta força? 

No Brasil, o sistema fi nanceiro tem se mostrado mais forte e resiliente do que todos os outros setores da economia. Em 2012, antes da atual crise econômica se agravar, o lucro dos quatro maiores bancos (Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander) equivalia a 36% do resultado das 100 maiores empresas. Em 2016, as mesmas quatro instituições lucraram o equivalente a 55% do alcançado pelas 1.000 maiores empresas.

 Se compararmos a Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido (PL) dos quatro maiores bancos com a de empresas de outros setores, fi ca clara a disparidade. Entre 2005 e 2017, a rentabilidade acumulada desses bancos foi 367% maior que a das empresas petroquímicas. Em relação ao setor de serviços, que inclui as empreiteiras, a rentabilidade acumulada sobre o PL foi 292% maior. Se pegarmos apenas o período mais recente, a diferença diminui, mas continua alta. De 2010 a 2017, a rentabilidade do setor bancário foi 233% e 142% maior que a dos setores petroquímico e de serviços, respectivamente. 

Força concentrada

Os dados dos balanços de 2017 mostram que a força do setor bancário está concentrada em apenas quatro instituições: Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander. Os quatro grandes juntos responderam por cerca de 77% do lucro total do setor bancário no ano passado.

A análise do resultado dos últimos cinco anos, mostra um comportamento bastante consistente. Entre 2014 e 2016, quando o Brasil viveu a segunda pior recessão de sua história de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getulio Vargas (Codace-FGV), o avanço foi signifi cativo. Enquanto o PIB registrou queda acumulada de 8,2%, o Lucro Líquido de Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander cresceu 20% no período. 

A análise dos últimos cinco anos mostra que, em média, o lucro do quarteto representou 76% do lucro total do setor. Ou seja, de cada R$ 10 apropriados pelo sistema bancário, mais de R$ 7 ficaram com os quatro. Mas em 2016, mesmo com a retração de 44% no lucro do Banco do Brasil, o peso do quarteto alcançou 84%. Isso ocorreu, provavelmente, porque a Caixa Econômica Federal (CEF), quinta maior instituição fi nanceira do país, registrou um forte recuo no resultado. 

O comportamento em 2016 ajuda a entender a força das três maiores instituições privadas (Itaú, Bradesco e Santander). Em média, elas representam 50% do lucro do setor bancário, mas naquele ano, responderam por 72%.

2005-2010 – A Era de ouro do setor bancário

A despeito da exuberância na rentabilidade do setor bancário nos períodos acima relacionados, inclusive nos anos recentes de forte recessão, o período marcante ocorreu entre 2005 e 2010.

 Em valores reais, o lucro real dobrou de patamar nesse intervalo. Saiu de um volume consolidado de R$ 40 bilhões para valores de R$ 80 bilhões, onde permaneceu no período posterior, que foi marcado também por um forte aumento da concentração bancária (falaremos desse tema amanhã). 

Por mais paradoxal que pareça, esse movimento teve início e se consolidou com a inclusão social e o crescimento econômico entre 2002 e 2015. Os grandes bancos dobraram de tamanho e capturaram uma rentabilidade que foi mantida mesmo com a queda de um governo e a maior recessão dos últimos 60 anos.    

Em valores atuais, estendendo a série até dezembro de 2017, vemos que o lucro das quatro maiores instituições financeiras sofreu redução em apenas 20 dos 51 trimestres do período. A tendência foi sempre ascendente.