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O que a área de seguros tem a ensinar para os bancos? 

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Recentemente, observamos a indicação do presidente de uma seguradora para a presidência de todo o conglomerado financeiro. É a segunda vez que isso acontece em 10 anos, o que levanta uma pergunta: qual a vantagem de uma passagem pela alta administração de uma empresa de seguros para a carreira de um executivo do setor financeiro? 

A resposta requer a compreensão de algumas características da área de seguros. Primeiro, o setor exige de seus executivos forte habilidade comercial, capacidade técnica para avaliação de riscos, adaptação aos desafios da concorrência e, acima de tudo, uma profunda compreensão dos desafios do posicionamento estratégico do negócio. Tudo isso aliado a uma postura conservadora, já que seguradoras lidam com reservas e provisões que asseguram contratos e obrigações de longo prazo. 

Segundo, o setor de seguros é fortemente regulado. As inovações e o aperfeiçoamento de produtos e serviços exigem um tempo de análise maior do que o observado em outros segmentos do mercado financeiro. Isso faz com que os executivos do setor aprendam a ter paciência e a evitar as tentações e ansiedades por resultados imediatos, que muitas vezes embutem arriscados posicionamentos especulativos. 

A rentabilidade do setor de seguros, na média, é inferior à encontrada no resultado dos grandes bancos, mas a volatilidade dos resultados é menor, ou seja, a atividade rende menos, mas ganha com mais consistência. Uma seguradora bem administrada constitui um ativo que protege a rentabilidade de longo prazo de um conglomerado financeiro. Em tese, quando analisamos o negócio da prestação de serviços financeiros de forma integrada, a oferta de seguros, produtos e serviços bancários converge para um sistema de gestão de portfólios. O que significa que há uma perfeita integração entre as atividades quando vistas pela ótica de complementariedade e de ganhos de sinergia dentro de um conglomerado.   

Logicamente, um caso isolado – mesmo que repetido - pode não legitimar a formulação de uma tese. No entanto, vale a observação apontada no início do texto. A cautela e o conservadorismo do setor de seguros, associados a tecnologias de gestão de risco e capacidade de alavancagem em crédito, presentes no setor bancário, podem ensinar um caminho para a consistência e o sucesso na gestão de grandes conglomerados. 

É importante, porém, que tal combinação tenha forte compromisso com o respeito às conformidades regulatórias impostas pelos reguladores e supervisores. Os riscos em um setor financeiro pautado por tecnologias como Blockchain, Inteligência Artificial e robôs são muito maiores.  Algumas atividades tradicionais do setor financeiro podem ser afetadas por novas tecnologias.

Na lanterna da disrupção

No mercado financeiro e de seguros, iniciativas realmente disruptivas esbarram em limitações regulatórias, de capital e, principalmente, na necessidade de manter a confiança dos clientes. Talvez por isso, no índice Exponential Organizations Fortune 100, desenvolvido pela revista Fortune para mostrar como as 100 maiores empresas do mundo estão posicionadas para fazer frente a movimentos disruptivos, as maiores empresas do setor financeiro e de seguros estão em posições intermediárias. 

Não são as mais mal colocadas – o setor de energia está pior por conta da pressão pela descarbonização da economia – mas estão bem distantes das primeiras posições. As melhor posicionadas são Human, State Farm e The Allstate Corp., respectivamente na 16ª, 17ª e 18ª posições, todas com atuação no mercado de seguros. Na lanterna, Bank of America, JP Morgan e Morgan Stanley (89ª, 88ª e 86ª posições, respectivamente).

Supermercado de serviços financeiros

Os entusiastas das Fintechs – aqueles que acreditam que a revolução nos setores bancário e de seguros ocorrerá de fora para dentro – apostam que, em alguns anos, os melhores serviços financeiros serão oferecidos pelos novos entrantes. Mas a grande maioria dos analistas acredita na colaboração entre incumbentes – as empresas já estabelecidas - e startups. 

A expectativa é que os grandes agentes do mercado possam funcionar como agregadores, como a Apple fez inicialmente com os aplicativos para IPhone. Com isso, os clientes terão menores preços e acesso aos melhores serviços, já selecionados pelos bancos. Já as Fintechs terão acesso à carteira de clientes das grandes instituições e escala, mas poderão manter sua independência. O que vai fazer a diferença é a experiência dos usuários.