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O fascismo em construção – O experimento nas eleições de 2018

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O cenário econômico em curso, reforça a cada mês, a sensação de estagnação estrutural da economia brasileira,   o iniciar de recuperação carreado pelos desempenhos do último semestre de 2017 , revelam que o que se anunciava como a grande retomada do processo de crescimento com a geração de  milhões de novos empregos , esbarra em problemas estruturais de queda da competitividade  da indústria , a baixa qualificação da mão de obra, déficits públicos colossais, quase nenhuma capacidade de investimento público e por fim de deficiências na alocação da poupança financeira , por conseguinte em um gravíssimo problema de eficiência do setor bancário , em especial o sistema de credito.

Essa coluna tem salientando ao longo dos últimos números, a necessidade de uma profunda reflexão política sobre uma realidade que se anuncia como trágica, a retomada da economia, está profundamente ancorada no desenrolar do processo eleitoral, o que exige consciência do observador sobre os riscos associados com a fragilidade do processo eleitoral em curso e os possíveis reflexos sobre as expectativas dos agentes econômicos e políticos. 

Por fim, ao próprio processo democrático, como podemos observar, na imensa rejeição ao processo eleitoral, identificada nas recentes pesquisas de opinião. O processo de radicalização ainda em gestação, pode ser o prenuncio do nascimento de tentações totalitárias, pano de fundo das justificativas ao culto do discurso e das ações que incentivam a eliminação dos diferentes. 

A experiência contida nos anais da história, permite identificar a célula, e nela o código genético que será o agente responsável pela proliferação de uma nova espécie, capaz de destruir tudo que toca. Esse ser é um projeto de homem, um ser em mutação, que enquanto ser solitário e desprotegido, vaga ao encontro de seus semelhantes, procurando na reunião de supostas identidades comuns, um alivio, uma fórmula que funcione como um elixir, uma poção mágica, na qual obtenha a salvação de sua angústia, se possível pela eliminação, até mesmo física do inimigo imaginário, daquele ser hediondo, que tudo lhe tirou que, em um ato de oportunismo e astúcia, apropriou-se do que lhe merecido, esse ser estranho que se aproveitou de suas fraquezas, que usando do beneplácito do convívio harmonioso, subverteu a ordem e roubou seus tesouros, suas riquezas e os elementos de sua reconhecia superioridade. 

Essa terra de escolhidos sofre, na percepção do fragilizado, um ataque diuturno e implacável de tudo e de todos, já que, ao seu olhar, todos lhe invejam e suas riquezas são desejadas. Nas suas relações com outros, principalmente naquelas em que se submetem as regras imundas impostas pelos fracos, encontra lugar o abominável, ambiente para a procriação dos tratados de trocas injustas, as negociações com outros, não são legitimas enquanto, não expressam a relação de suserania e vassalagem. 

Elias Canetti em “Massa e Poder”, discorre que o elo que junta semelhantes em movimentos de busca por poder, está associado com o sentimento do medo. 

Para o autor, esse é um fenômeno de concentração de um conjunto de indivíduos que quando agrupados, tende para um crescimento exponencial, e tem por objetivo, a procura por uma sensação de autoproteção. Na origem, no princípio da sua formação encontrasse o sentimento do “medo de contato”: ameaças pelo desconhecido, ditadas pelo medo de serem tocados. 

Por semelhança, podemos pautar essa analogia com o momento de predomínio da ideologia que combina, segregação com supremacia, um binômio de forças que emerge vitorioso, depois da eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América. O símbolo da administração Trump, seria o regresso aos tempos gloriosos, os idos de uma América Grande.         

Ao contrário do que aponta a vã filosofia, os atos, ações e o discurso da administração não são meras fantasias de uma retórica oportunista, com traços fortes de populismos; mas do que isto, é o renascimento de um fenômeno claramente identificado no século XX. 

As lições da história retiradas da literatura

Esse processo de guerra contra o mundo e recepção de forma generosa de elementos de uma estética fascista identificados em três obras clássicas. 

Pela ordem de publicação, cita-se, em 1984, George Orwell, que retrata o mundo dominado pelo autoritarismo e o domínio do medo, em que uma distopia transforma a mentira em verdade, a guerra na paz, a fraqueza na força, os fatos alternativos em verdades, criando um mundo em que o domínio da linguagem é exercido por palavras e signos sem significados.

O Homem do Castelo Alto de Philip Dick é uma obra contra factual que se passa no ano de 1962, nos Estados Unidos, e retrata um mundo em que vitoriosos os países do eixo na  Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos foram entregues à Alemanha nazista e ao Império do Japão, revelando o entusiasmo e a relativa facilidade com que o povo norte americano se adapta à situação. 

Em terceiro na ordem, a excelente obra de Philip Roth, chamada “Complô contra a América”, que relata um mundo em que Franklin Delano Roosevelt é derrotado nas urnas, eleições de 1940, por Charles Lindbergh, o super astro da aviação transcontinental, admirador de Hitler, amigo condecorado por Herman Boeing, o todo poderoso ministro da aviação do Terceiro Reich. 

O romance retrata a vida de personagens, crianças judias em um mundo de intolerância, e as consequências da tentação pelo isolamento, uma advertência quanto aos perigos das leis que impõem restrições à emigração e ameaças às liberdades civis.  

Por fim, fica o convite à reflexão sobre o abismo que se projeta, mesmo com os riscos que por ventura venham ser revelados. O chamado, não esconde o perigo que o convite enseja; à quebra da sensação do normal, fruto da identificação do desconforto com uma realidade agonizante, ou do trauma incontrolável pelo despertar da consciência, da sensação de subversão com o soar de um ritmo que acompanha a prosa do discurso contido nos uivos da matilha e o confronto com a ignominiosa religião dos fundamentalistas. 

Pois, “Assim começa o mal o pior ainda está por vir.” (Hamlet, de William Shakespeare).