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Otávio Azevedo e as conversas sigilosas na Oi

Relatório aponta que ex-Andrade Gutierrez quebrou sigilo de clientes

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O ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez Otávio Azevedo usava sua influência, na condição de controlador da telefônica, para obter informações confidenciais de clientes da empresa e checar se aparelhos eram alvo de interceptação autorizada pela Justiça. A constatação foi feita após a realização de uma perícia no telefone.

Azevedo acionava o então diretor de Operações da Oi, James Meaney para obter as informações que queria, de acordo com O Globo. Outras relatórios de perícia feita pela Polícia Federal apontam ainda que Azevedo e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, usavam aplicativo para comunicação por celular Wickr, que autodestrói mensagens enviadas entre usuários. Interceptações mostram várias comunicações entre os dois.

Para este crime não tem tornozeleira. Por que em sua delação, Otávio Azevedo não admitiu, não confessou isso? Aliás, em suas delações, o ex-presidente da Andrade Gutierrez sempre afirmava que tinha relações institucionais com Eduardo Cunha, e que não havia intimidade entre os dois.

Além de corrupto, Azevedo era corruptor. Infringia a lei quebrando sigilos telefônicos, e corrompia de acordo com as denúncias de pagamento de propina. 

E como ficam os pobres desempregados do Brasil, que não são obrigados a usar tornozeleira, mas também não têm dinheiro para comprar pão e leite?

Sigilo

Segundo a reportagem, em 7 de abril de 2012, atendendo a pedido de seu médico particular, que tentava solucionar o paradeiro do filho de um amigo, Azevedo acionou Meaney, que enviou a localização e últimas chamadas do aparelho.

“Quer que a gente monitora (sic) esse número? Quer saber os números que está ligando? (sic)”, perguntou Meaney.

“Gostaria de monitorar sim, permanente, para ver a direção que vai”, respondeu Azevedo.

>> Otávio Azevedo, Nelson Pellegrino e as telecomunicações

Ainda segundo a reportagem, nos três dias seguintes, Meaney, que entre 2010 e 2013 ocupou o segundo cargo mais importante da companhia, continuou monitorando o aparelho. “Pessoa se deslocou. Pelo novo site deve estar se deslocando pela BR-101 sentido JVE-Porto Alegre. Ultima comunicação do aparelho com a rede foi no site SOO0286 setor 1”, escreveu ele. “Continue monitorando, forte abs”, determinou Azevedo.

Meaney ainda informava as últimas ligações feitas do aparelho. O monitoramento só foi encerrado quando o médico particular de Azevedo informou que a família havia conseguido na Justiça a quebra dos sigilos telefônicos do jovem desaparecido e lhe escreveu: “O menino voltou e disse que não quer mais nada com a família (...) Os pais agradecem a colaboração. Só faltou darmos uma surra no menino!”, disse.

Em 4 de outubro do mesmo ano, Meaney respondeu a outro pedido de Azevedo, a respeito de eventual grampo solicitado pela Justiça para um número. “Aparentemente sem grampo”, respondeu o então diretor operacional da Oi. Pela troca de mensagens, não é possível saber a que número ele se referia.

O Globo destaca que, por meio do advogado, Azevedo disse que o ato foi uma “ação humanitária, ajudar uma família desesperada”. Afirma que “nunca utilizou de sua posição para conseguir informações ou manipular dado confidencial de cliente da Oi ou empresa do grupo”. Ele não comentou o texto com referência à verificação de possível grampo em outro número.

A Andrade Gutierrez afirmou não realizar “qualquer monitoramento de telefones” e que o caso “não faz parte da rotina da companhia”. A Oi disse ter “rigorosos processos internos para controle de sigilo telefônico de clientes” e que “não tolera conduta individual fora do padrão”.

Eduardo Cunha

Documentos de relatório de perícia produzido pela Polícia Federal a partir de análises do Otávio Azevedo apontam ainda que ele e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, eram usuários do aplicativo para comunicação por celular Wickr, que autodestrói mensagens enviadas entre usuários.

A informação consta de pelo menos uma das mensagens no aplicativo whatsapp trocadas entre os dois e registrada em documentos de relatório de perícia produzido pela Polícia Federal a partir da análise do celular do executivo.

Em 30 de julho de 2014, Cunha escreveu a Azevedo:

“Estou na CNI. O meu Wicrk está com problemas. Ligo em torno das 13:30'. abs Não consegui falar com Mercadante”.

Em seguida os dois trocam diálogo onde tentam marcar um encontro em Brasília, para o dia seguinte.

“Tenho que te falar”, diz Cunha.

“Falo com certeza”.

“Você vai embora que hrs e pra onde?”, retruca o deputado.

“Vou para o Rio à noite”, diz o executivo.

Cunha e Azevedo também usavam um aparelho da empresa blackberry, considerado mais seguro de interceptações do que os aparelhos comuns.

“Me convide para o BBM!”, escreveu Otávio Azevedo a Cunha em 12 de dezembro de 2012, mencionado o aplicativo de mensagens da blackberry.

“Qual?”, pergunta Cunha quatro minutos depois.

“Pin:2BA0E028”, responde o executivo.

O relatório da PF aponta que Azevedo tinha intimidade com Cunha.