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Diante das pesadas acusações, pena de 14 anos para Cabral foi branda

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Em sua sentença, na qual condenou o ex-governador Sérgio Cabral, o juiz federal Sérgio Moro não poupou nas palavras:

O juiz destacou a "notória situação de ruína das contas públicas do Governo do Rio de Janeiro." Ele diz: "Constituiria afronta permitir que os condenados persistissem fruindo em liberdade do produto milionário de seus crimes, inclusive com aquisição, mediante condutas de ocultação e dissimulação, de novo patrimônio, parte em bens de luxo, enquanto, por conta de gestão governamental aparentemente comprometida por corrupção e inépcia, impõe-se à população daquele Estado tamanhos sacrifícios, com aumentos de tributos e corte de salários e de investimentos públicos e sociais. Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres."

Moro prosseguiu: "A responsabilidade de um Governador de Estado é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes. Não pode haver ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato e a sagrada confiança que o povo nele deposita para obter ganho próprio. Ademais, as circunstâncias da cobrança da vantagem indevida e da lavagem subsequente, que se inserem em um contexto maior de cobrança de propina sobre toda obra realizada no Rio de Janeiro, indicam ganância desmedida, o que também merece reprovação especial. Agiu, portanto, com culpabilidade extremada, o que também deve ser valorado negativamente. Tal vetorial também poderia ser enquadrada como negativa a título de personalidade."

Diante de tais acusações, contudo, a pena de 14 anos e dois meses parece leve demais. O juiz Sérgio Moro foi condescendente ao determinar o tempo de reclusão, sobretudo após sua sentença responsabilizar Cabral pela destruição do estado do Rio na educação - com suas universidades fechadas e escolas sem professores -, na saúde - com seus hospitais à míngua e pacientes sem remédios -, na segurança - com os índices de criminalidade indo para a estratosfera e as mortes se multiplicando -, no desemprego - com servidores sem salário e povo sem trabalho -, e na total deterioração da imagem do estado no exterior.

Se Cabral pegou 14 anos, um delinquente que trafica droga, ou que mata pelas próprias condições de desespero social proporcionadas pelo desgoverno, deve pegar que pena? Limpar ruas? Cestas básicas?

Tudo isso fez e faz sofrer 22 milhões de habitantes, numa crise sem precedentes. E Cabral pega apenas 14 anos de prisão? Se a decisão foi tomada em razão das outras nove denúncias contra o ex-governador, não se justifica. Uma sentença não pode esperar outra. Uma sentença tão fantasticamente descrita pelo juiz Sérgio Moro deveria implicar em muito mais tempo de reclusão. Toda a prisão é ruim, mas esta foi branda.