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Interior se esvazia

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Passados os interesses pelo sucesso eleitoral, porque com eles não há como competir neste momento, ao governo, não para o que se aproxima do fim da jornada, mas o que estará principiando, será inevitável a nova avaliação do processo migratório que se observa no país, não apenas por inspiração de qualquer capricho em relação a números e estatísticas, mas porque é nesse fenômeno, que diariamente desloca milhares de brasileiros, que vamos encontrar explicações; se não as desejáveis soluções para alguns dos problemas que hoje afetam a vida urbana. As políticas que têm assumido as preocupações dos governantes, quando muito procuram encarar as consequências imediatas, buscando abrigos improvisados e subsistência do momento. É o mesmo que aplicar pedaços de esparadrapo em ferimentos que não param de sangrar. Não diferentemente de outros modelos de improvisação no campo das crises sociais: remédios com efeito de curta duração.

Mas o problema vem se agravando, com todas as evidências. O Brasil vai despovoando cada vez mais o interior. Uma observação, ainda que superficial, do movimento dos terminais rodoviários, mostra que são levas de esperançosos que desembarcam, à procura de melhores condições de vida, sendo São Paulo, Rio e Belo Horizonte as referências mais comuns. Se isso já existia no passado, o que é verdade, cabe considerar que, antes, o retirante chegava sozinho, com uma pequena mala e poucas coisas indispensáveis; a família só mais tarde, quando a vida estivesse minimamente organizada. Não hoje, pois desembarcam famílias inteiras, ampliando consideravelmente os problemas.

Está o país frente à seguinte dificuldade: esvazia-se cada vez mais o interior, e as grandes e médias cidades vão ficando inchadas, sem condições de absorver, com um mínimo de dignidade, essas levas de esperançosos, que logo se transformarão em populações frustradas; quando muito, absorvidas no subemprego e em atividades secundárias.

Mas não cessam aí as dificuldades, como a experiência demonstra. Elas carregam consigo outros problemas, consequentes do primeiro, que resultou da aventura da migração. As cidades logo cuidam de expulsar os recém-chegados para as favelas, onde são escassas e precárias as condições de habitabilidade. Temos nisso o fermento que vai concorrendo para tornar crítica a vida nas grandes cidades deste país, surgindo os altos índices de violência como o principal tormento. Aliás, não podia ser de outra forma, pois o perigo de vida associa-se intimamente ao inchaço urbano. É receita inevitável. Sem que para tanto se atirem culpas sobre os que chegam, pois também acabam se tornando vítimas.

Desafio para não pretender soluções imediatas, nada de um dia para o outro, o grande sonho está na elaboração de políticas que estimulem o interior a construir condições capazes de reter as populações, o que não se pode alcançar com forças e recursos próprios. É preciso que os governos estadual e federal associem seus esforços para dar às populações prestes a debandar um estímulo para permanecerem fiéis às suas raízes, desanimadas para as incertezas que as esperam nas metrópoles. Para um primeiro passo, não há como errar: atendimento primário à saúde e educação elementar oferecida às crianças e jovens; recursos agregadores que, não sendo possível criar em todos os lugares, existiriam suficientemente nas microrregiões. Raras, mas bem sucedidas experiências microrregionalizadas, através de consórcios entre prefeituras, mostram que impossível não é.

O assunto vai passando virgem no debate eleitoral, mas nem por isso perde sua importância. É preciso ter espaço na agenda do próximo governo.