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Beto Richa é alvo de escândalo de corrupção

Governador do Paraná e presidente da Assembleia são acusados de receber propina

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Preso pela Operação Quadro Negro, que investiga desvios de cerca de R$ 20 milhões da Secretaria estadual de Educação do Paraná, o dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, que faz acordo de delação premiada, acusou o governador Beto Richa e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Ademar Traiano, de participarem de um esquema de pagamento de propina.

Eduardo afirmou que parte dos desvios de dinheiro descobertos pela Quadro Negro serviriam para bancar as campanhas do governador. Segundo as investigações, a fraude contou com a ajuda do ex-diretor da Secretaria da Educação, Maurício Fanini, que se dizia amigo pessoal de Beto Richa. A equipe chefiada por ele era responsável por produzir relatórios sobre o andamento das obras contratadas junto à Valor. As medições eram falsas porque não poderia faltar dinheiro para a campanha.

Segundo o empresário, os dois esperavam levantar R$ 32 milhões para o governador, com os contratos que a Valor fechou com o poder público. Souza contou aos investigadores que, entre abril e setembro de 2014, ele fazia os repasses diretamente a Fanini, na sala dele, no prédio da Superintendência de Educação. O empresário contou que entrava por uma porta lateral e Fanini dizia “banheiro”. Então, o dono da Valor ia até o vaso sanitário e pegava uma mochila, que enchia de dinheiro.

O empresário afirmou que, em dado momento, perguntou a Fanini se o dinheiro realmente estava indo para a campanha de Richa. O ex-diretor teria dito que sim. Com a sequência das operações entre os dois, o volume de dinheiro começou a ficar muito alto. Conforme o relato de Souza, ele e Fanini começaram a se preocupar e pensaram em uma alternativa que consideraram mais segura. Souza conta que passou a entregar o dinheiro com caixas de vinho. Ele diz que, das 12 garrafas, tirava 10 e preenchia o espaço aberto com o dinheiro.

Para dar garantias ao empresário, Fanini sempre afirmava ser amigo pessoal de Beto Richa. Em novembro de 2014, o ex-diretor da Secretaria da Educação contou que viajaria com o governador. Ambos levariam as mulheres para passear no Caribe, no México, e em Miami, nos Estados Unidos. Fotos dessa viagem fazem parte de uma ação ligada às investigações da Operação Quadro Negro.

Mensalão para o governador

No depoimento, Souza disse que começou a pagar uma mesada de R$ 100 mil para o governador. Em janeiro de 2015, Fanini o chamou para dizer que teve uma reunião com Richa e ficou acertado que precisariam levantar a quantia.

Segundo o delator, o ex-diretor da Secretaria afirmou que o dinheiro ajudaria a financiar a campanha de 2018 de Beto Richa ao Senado; do irmão dele, Pepe Richa, para deputado federal; e do filho do governador, Marcelo Richa, para deputado estadual. Souza afirma que concordou com a proposta e começou a fazer os repasses no mesmo mês da reunião. Os pagamentos seguiram, pelo menos, até junho de 2015, quando Fanini foi exonerado do cargo, pouco antes da descoberta das fraudes na Secretaria da Educação.

Verba para deputado

O delator contou também que ficou acertado que ele também deveria ajudar na campanha do deputado Ademar Traiano à reeleição. Ele se comprometeu a dar R$ 100 mil para o caixa dois. Ele levou o dinheiro em uma mala no gabinete da liderança do governo na Alep.

Ainda conforme as informações de Eduardo, ao abrir a mala e ver que tinha mais dinheiro, Traiano perguntou: “Não pode me dar mais?” Eduardo, por sua vez, respondeu que aquele dinheiro já estava comprometido para a campanha do governador. Ele disse ainda que fez outras entregas no valor de R$ 100 mil para Traiano, entre dezembro de 2014 e abril de 2015. Duas delas foram dentro da Alep e uma na casa do deputado.

Dinheiro para conselheiro

O dono da Construtora Valor também declarou em seu depoimento que o empresário afirmou que Fanini sugeriu que seria bom ter alguém do Tribunal de Contas do Paraná “com eles”. Eduardo afirmou, por sua vez, que deu a ideia de procurar o conselheiro Durval Amaral e sugeriu oferecer ajuda financeira para a campanha do filho de Durval, Tiago Amaral (PSB), candidato ao cargo de deputado estadual.

Eduardo afirmou que combinou com uma pessoa ligada a Durval um pagamento de R$ 50 mil para o caixa dois da campanha do filho dele. O pagamento, declarou o delator, foi feito a uma assessora no comitê de Tiago Amaral, que foi eleito em 2014. Durval é o atual presidente do Tribunal de Contas.

Conforme o delator, a assessora levou o dinheiro para uma outra sala e, em seguida, retornou com Durval Amaral, que agradeceu e disse que estava à disposição para o que precisasse. Tiago também agradeceu pelo dinheiro, segundo Eduardo.

Quantia da Assembleia

O delator Eduardo Souza também disse aos procuradores que, mesmo sem conseguir fazer as obras das escolas, a Construtora Valor conseguiu receber mais dinheiro do que estava nos contratos. Esses valores adicionais chegaram a quase R$ 6 milhões em 2014 por meio de aditivos. Parte do dinheiro, afirmou o delator, saiu do caixa da Alep. Desde 2012, a Assembleia Legislativa tem feito cerimônias para a entrega de cheques milionários ao governo.

Segundo a Alep, o dinheiro é resultado de economia no orçamento e é devolvido ao governo para ajudar no pagamento de contas. Em novembro de 2014, o então presidente da Assembleia, Valdir Rossoni, devolveu R$ 230 milhões aos cofres públicos.

Eduardo disse ainda que em 2014, Fanini pediu para ele conversar com o deputado Plauto Miró (DEM), primeiro secretário da Assembleia. Na conversa, o delator contou que estava com aditivos no valor de R$ 10 milhões e disse que perguntou quanto Plauto iria cobrar para conseguir o recurso. Segundo Eduardo, Plauto respondeu que a cobrança seria de 10%. No fim de 2014, Beto Richa assinou decretos que autorizaram o pagamento dos aditivos à Construtora Valor de quase R$ 6 milhões.

Depois que os valores foram liberados, em 23 de dezembro de 2014, ele sacou R$ 550 mil e entregou R$ 500 mil para Maurício Fanini dentro de caixas de vinho. No dia seguinte, Eduardo disse que pagou a primeira parcela exigida por Plauto Miró, no valor de R$ 300 mil. O pagamento, segundo Eduardo, foi feito dentro da Alep. A outra parcela, também de R$ 300 mil, só foi paga em janeiro de 2015. O ponto de encontro foi em uma panificadora do bairro Batel, ainda de acordo com o delator.

O aviso governamental

Em uma dessas conversas, Fanini contou ao empresário que Beto Richa tinha avisado sobre a operação do Núcleo de Repreensão a Crimes Econômicos (Nurce) com foco nos desvios de obras na Secretaria de Educação. Segundo Eduardo, o governador pediu para que Fanini limpasse as coisas dele, especialmente tudo que tivesse relacionado a dinheiro.

O outro lado

Beto Richa negou as acusações, as quais ele classificou de "afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua pena". O governador lembrou, ainda, que foi “a própria Secretaria de Estado da Educação que, em abril de 2015, detectou disparidades em medições de algumas obras de escolas e abriu auditoria interna sobre o caso. De imediato, o governador determinou a demissão de todos os envolvidos".

Por meio de nota, Pepe Richa, que é o atual secretário de Infraestrutura e Logística, negou que tivesse conversado com Eduardo Lopes sobre campanha eleitoral. "O depoimento do delator traz acusações absurdas e mentirosas que sequer foram referendadas pela Justiça. As obras do setor de Educação são contratadas diretamente pela Secretaria de Educação, sem qualquer intervenção ou participação da Secretaria de Infraestrutura e Logística”.

Marcelo Richa, filho do governador e atual secretário de Esportes da prefeitura de Curitiba, rechaçou qualquer citação ao nome dele e disse que não conhece Eduardo Lopes. "As suposições do delator Eduardo Lopes de Souza são inverídicas e sem qualquer prova".

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