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Desafio de inventar espaço

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KAZAN - Antes de o Brasil vencer o México, a estatística dos times de mais posse de bola na Copa do Mundo era assustadora. Líder nesse quesito, a Espanha foi eliminada na véspera do jogo brasileiro pelas oitavas. Alemanha, segunda colocada, e Argentina, terceira, também pegaram o avião para casa. A seleção de Tite é a quarta colocada em posse de bola.

Não é um problema jogar com troca de passes, e o diagnóstico matará o doente se alguém disser que é melhor entregar o controle do jogo para o adversário. Não é. O problema não é a bola. É a falta de espaço. Criá-lo, como Josep Guardiola ensina em seu livro “Guardiola, Confidencial”. Diz que não gosta do tiki-taka. Os passes incessantes chateiam, mas funcionam se forem estratégia para balançar a defesa rival, de modo a abrir buracos nela.

O desafio desta Copa, e do futebol disputado em dez metros entre as linhas de defesa e meio de campo, é inventar espaço. No dia seguinte à eliminação espanhola e à percepção de que o Brasil era sobrevivente entre os líderes em bola no pé, a seleção de Tite venceu o México e ouviu Osorio argumentar a seu favor falando em posse de bola. A seleção brasileira teve menos.

A Bélgica venceu seus quatro adversários com mais de 51% do tempo com bola no pé. Correu risco de eliminação contra o Japão e sofreu dois gols da Tunísia. Mas quebrou tabu de 82 anos sem ganhar da Inglaterra, numa partida entre os reservas, dos dois lados.

O melhor jogador belga na Copa do Mundo é Eden Hazard. Joga pela esquerda e vai sufocar Fagner. Apesar disso, só 2 dos 12 gols da seleção de Roberto Martínez nasceram pelo setor esquerdo. Seis em tabelas pela faixa central do campo, quatro em jogadas pela direita.

O Brasil precisa marcar bem com seus dois laterais. Mas pode explorar as duas pontas, no ataque. A Bélgica joga num 3-4-3. Quando defende, recua os pontas e os alas. Vira 5-4-1. Costuma passar mais tempo atacando. Parece novo pensar que Brasil x Bélgica reúna o melhor ataque da Copa, o belga, contra a melhor defesa, a brasileira.

Não esqueça que a primeira Copa vencida pelo Brasil, a única na Europa, veio com Pelé e Garrincha, mas também com a defesa menos vazada. As Copas na Europa são mais difíceis. É a sexta consecutiva com seis europeus entre os oito das quartas de final. A última, na Alemanha, teve semifinais com os donos da casa, Itália, França e Portugal. Brasil e Uruguai tentam mudar isso nesta sexta (6).