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Perícia aponta edição nas imagens que mostrariam que Garotinho não foi agredido

Análise revela interrupções, trechos "congelados" e evidência de "interferência humana" 

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Perícia feita pelo Ministério Público do Rio aponta que as imagens do circuito interno da cadeia pública José Frederico Marques, no dia em que o ex-governador Anthony Garotinho (PR) diz ter sido agredido, foram editadas. Com isso, segundo os peritos da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia (Dedit) do MP-RJ, não seria possível afirmar que não houve invasão à cela de Garotinho.

A gravações do caso teriam "interrupções atípicas", imagem congelada e evidência de "interferência humana" na captação dos vídeos, segundo os peritos.

O vídeo disponibilizado pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) para a imprensa mostrava uma gravação até as 22h58 do dia 23, retornando à 1h56, já com a imagem de Garotinho chamando os agentes para relatar a suposta agressão. De acordo com a secretaria, o sistema paralisa a captação de imagens quando não há movimento.

Mas a perícia constatou evidência de "interrupções atípicas caracterizadas por corte durante a movimentação de pessoas na área de captura da câmera". O trecho se refere à câmera 4, que filmava a galeria B.

"O ponto-chave da interferência humana como fator determinante na inatividade das câmeras é notado pelo corte em meio ao movimento de um agente que transita no pátio. Ou seja, o sistema que durante todo o tempo grava até mesmo nuances de luminosidade é cortado bruscamente no meio do percurso do movimento que justamente é o gatilho da gravação", diz a perícia.

O congelamento da câmera 3 também á apontado como indício de manipulação. Enquanto a câmera 4 registrou o ex-governador chamando os agentes, a 3, direcionada para o mesmo local, não filmou o movimento. Os peritos afirmam ainda que o acesso à galeria C tinha um "ponto cego" no videomonitoramento da cadeia.

Agressão

Garotinho alegou que, na madrugada do dia 24 de novembro, um homem entrou em sua cela e lhe agrediu com uma paulada no joelho e um pisão no pé, que deixou hematomas,  constatados no exame do Instituto Médico Legal (IML). De acordo com Garotinho, o homem que invadiu sua cela teria afirmado: “Você gosta muito de falar, não é?”. 

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) sustentou que as imagens das câmeras de segurança não demonstram a suposta agressão e, por isso, decidiu punir Garotinho por falsa comunicação de crime e o enviou para o Complexo Penitenciário de Bangu. 

No dia 28 do mesmo mês, o procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, encaminhou ofício ao secretário de Estado de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro, requisitando imagens de vídeo gravadas pelas câmeras instaladas na galeria B da cadeia. O pedido especifica o período entre 20h do dia 23 de novembro às 6h do dia 24 de novembro, horário em que Garotinho diz ter sido agredido por agentes penitenciários.

No documento, Gussem esclarece que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) recebeu informações de possível edição das imagens disponibilizadas pela Seap.

Desafetos

Na cadeia de Benfica estavam presos o ex-governador Sérgio Cabral, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, deputado afastado Jorge Picciani, e os deputados afastados Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB, além de ex-secretários e ex-assessores do governo Cabral.

Eles são considerados desafetos políticos de Garotinho, que os denunciou inúmeras vezes, tendo inclusive divulgado a famosa foto dos guardanapos na cabeça, em um restaurante em Paris. 

Retrato falado

No dia 4 de janeiro, Garotinho esteve na Cidade da Polícia para concluir o retrato falado do homem que ele afirma que o agrediu. A elaboração havia sido interrompida no fim de novembro, devido a um problema no sistema do computador.

“O retrato estava pronto, praticamente. Estávamos em Bangu e faltava apenas colocar o nariz quando o sistema deu pane, e estamos há mais de 30 dias querendo completar o nariz”, disse Garotinho, antes de ser encaminhado para a Coordenadoria de Recursos Especiais [Core] para finalizar o retrato.