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Aldeia dos Kayapós no Xingu preserva cultura milenar

Ensaio do editor de Fotografia do JB faz homenagem no Dia do Índio

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Nos idos de 1981, a “canceriana telúrica” Baby do Brasil, na época ainda Baby Consuelo, lançou um disco intitulado com os adjetivos citados acima entre aspas e que trazia uma canção que se tornou um clássico da MPB e da causa indígena. Como dizia a letra da música composta por Baby, “antes que o homem (branco) aqui chegasse, as terras brasileiras eram habitadas e amadas por três milhões de índios, proprietários felizes da Terra Brasilis, pois todo dia era dia de índio (...), mas agora eles só têm o dia 19 de abril”... Trinta e sete anos depois, infelizmente, a denúncia em forma de melodia e prosa continua atualíssima, vide Belo Monte, a usina construída na bacia do Rio Xingu, próximo a Altamira, no sudoeste do Estado do Pará, que espremeu ainda mais as nações indígenas da região. Há um santuário, porém, que permanece em sua resistência ao tempo e que foi visitado em junho de 2013 pelo editor de Fotografia do JORNAL DO BRASIL, José Peres: a aldeia Kayapó, no Parque Nacional do Xingu. 

Peres saiu de São Paulo e foi até Carajás em avião de carreira. De lá, embarcou num Cesna 210, um monomotor de seis lugares, em direção a São Félix do Xingu, na confluência do Rio Xingu com o Rio Fresco. De São Félix à aldeia Kayapó, foram cinco horas numa canoa equipada com um motor de popa potente para atravessar o rio. Ele passou uma semana dormindo numa rede montada no posto de saúde fincado na aldeia, encarando um outono de 40ºC — “A gente conversava dentro do rio” —, mas saiu de lá com o coração aquecido e com as belas fotos que o JB publica, hoje, em comemoração ao Dia do Índio. 

“Os Kayapós falam uma língua própria, da família linguística Jê Tem uma sofisticada mitologia, suas próprias histórias sobre a criação do mundo e sobre Deus. Foi uma experiência inesquecível”, recorda o fotógrafo. 

Peres pôde acompanhar na ocasião a Festa da Mandioca, feita quando os homens chegam da caçada, e se encantou com a cultura local. “Toda a aldeia toma banho no Xingu ao nascer do dia, e as crianças são muito felizes. Correm e brincam em total liberdade por toda parte. O indígena brasileiro é, na sua aldeia, um homem fortíssimo. Passam dificuldades, às vezes, pela escassez de comida”, conta. 

Ligado à imagem e a estética, chamou atenção de Peres a dedicação dos índios à pintura corporal: “Eles se pintam em formas geométricas com uma tinta feita com carvão e óleo de jenipapo. A tinta vermelha vem dos grãos de urucum.  Eles se pintam todos os dias, horas por dia. As pinturas perdem a cor depois de alguns dias com os banhos e o suor”. 

O editor de Fotografia do JB lembra de alguns hábitos milenares dos Kayapós, transmitidos de geração à geração. “Os homens caçam e pescam. Os filhos têm arcos proporcionais à idade e acompanham os pais nas caçadas. As mulheres é que cozinham. E as filhas maiores cuidam o tempo todo de uma irmã menor. O sexo é livre antes do casamento, mas, depois, não”, recorda-se o fotógrafo, que fez amizade com as crianças da tribo. “Levei muitas balas e biscoitos. Elas andavam em bando comigo e me mostravam as brincadeiras”, relembra.