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Uma nota fora do "Tom"

Os interesses por trás do rebaixamento da nota da Petrobras

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Novamente surge no cenário econômico um comportamento por parte de uma Agência Classificadora de Risco (rating) qualificável como infeliz e fora dos preceitos de prudência que devem nortear notas técnicas envolvendo avaliações de rebaixamento de risco de crédito.

Este fato ocorreu na ultima terça feira, quando a agência classificadora de risco Moody’s , em comunicado ao mercado, rebaixou o chamado rating global da Petrobras de Baa1 para Baa2, o que significa, na prática, que o custo do endividamento da empresa deve se elevar, ou seja, os bancos e credores financeiros poderão exigir da companhia uma elevação do chamado “prêmio de risco”,  envolvendo os custos (taxas de juro) cobrados sobre novos empréstimos e financiamentos.

Segundo a Moody’s, a situação financeira da Petrobras vem deteriorando ao longo dos últimos meses em decorrência da defasagem no preço da gasolina nos mercados doméstico e internacional, em especial pela elevação do preço no mercado internacional e pela depreciação da moeda local (Real) frente ao dólar. Associa, ainda, ao agravamento do quadro, o contínuo aumento de investimentos em prospecção de óleo, frente às necessidades de ampliação da produção no mercado local; aproveitamento das reservas do Pré-Sal.

>> Os interesses por trás das críticas à Petrobras

O discurso contido no posicionamento da Moody’s seria aceitável, não fora a existência de três aspectos, inseridos de forma subliminar, no detalhamento da nota expedida.

Primeiro, o momento, infeliz coincidência de datas, justamente nos dias finais da campanha eleitoral, quando os assuntos sobre o modelo de gestão e a política de formação dos preços dos combustíveis estão sendo objeto de forte comoção e exploração política.

Segundo, a nota carrega na exploração dos efeitos de um aumento significativo no endividamento da empresa (US$170 Bilhões), salientado o crescimento de US$20 Bilhões sobre o estoque da dívida ao longo do ano de 2014.

Terceiro, destaca o efeito colateral danoso que a queda no preço do petróleo no mercado internacional (de US$114 em Dez/2013 para US$85 em Out/2014) e o possível efeito a ser causado, na hipótese de uma diminuição na produção local em detrimento de aumento nas importações, se for mantida a política de preços, com efeitos sobre a geração e o fluxo de caixa da companhia.

As alegações contidas no sóbrio texto divulgado são de um refino e racionalidade críveis. Contudo, sobressaem as mensagens ocultas no documento, ficando evidente a menção ao desequilíbrio e aos impactos causados dentro de uma lógica de perversa causalidade.

O que foi ruim continuará pior.  O que poderá ser bom será péssimo.

A avaliação centraliza suas críticas exclusivamente pela visão do ajuste via preço (aumento dos combustíveis), desprezando os efeitos contínuos levados pela companhia em busca da redução de custos e de políticas de eficiência.

Ao comentar o cenário atual de decréscimo no preço do petróleo, sustenta que o efeito de longo prazo do mesmo será de extrema gravidade para a companhia e prejudicial à manutenção do volume de investimentos.

Novamente, extrapola a análise técnica e incorpora um juízo de valor sobre a eficiência da companhia na prospecção de óleo em águas profundas e o sucesso na extração do petróleo do Pré-Sal.

 

O pior ficou para depois.

A consequência imediata do rebaixamento no risco de crédito da Petrobras será um aumento de 0.15 a 0.25 sobre a taxa de juros paga pela companhia, que, incidindo sobre o total do endividamento aos números de hoje, significam um acréscimo de US$340 milhões, custo este que, pela lógica da avaliadora de risco, só pode ser revertido se a política de formação do preço dos combustíveis for alterada. Isso significa que a recomendação é que o país deve gerar mais inflação e assegurar uma política de geração de caixa positiva para a empresa via preços e somente preços, assegurando a manutenção nos resultados futuros da companhia de um dividendo (gordo) para saciar a lógica das especulações recentes e dos movimentos de confluência entre os reclames do mercado e a saciedade dos especuladores.

Em momentos de maior fervor no debate político, certamente teríamos um eloquente chamado à nação, conclamando todos a uma reflexão sobre as sugestões capciosas contidas nas doces notas técnicas dos avaliadores de risco.

“Eles estão agindo como agitadores e instrumentos nocivos à política nacional”. Em verdade: lesadores da Pátria!

* Investidor e analista de negócios