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A guerra do Rio

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Não vou citar números, comparar com outros conflitos armados pelo mundo, para chegar a uma conclusão óbvia. Há uma guerra de graves proporções no Rio de Janeiro, a cidade símbolo do Brasil.

Uma guerra que é antiga, entre a Polícia Militar e o crime organizado, mas que, a partir dos últimos anos, mostra claramente a incapacidade das autoridades para vencê-la. E, gera um processo de apavoramento que domina a população da Cidade.

Não culpo a Polícia, seus oficiais, seus soldados, que receberam, na verdade, uma missão impossível: Vencer a força crescente de um capital avassalador que domina dois dos maiores e mais poderosos negócios clandestinos do mundo. O tráfico de drogas e o tráfico de armas.

Houve um momento animador que prometeu e até obteve, no início, resultados bastante positivos. Na época da criação da simpática Polícia Pacificadora. Foi explicitamente dito, entretanto, que o projeto só teria êxito ao longo do tempo, se o Estado cumprisse a sua parte no projeto com a entrada maciça naquelas comunidades dos serviços públicos essenciais para a população mais necessitada.

O Estado falhou e o projeto promissor foi para o brejo. E o crime organizado aproveitou a fraqueza do poder público para não só retomar suas posições anteriores como avançar muito mais profundamente no território que lhe é muito conhecido, que é sua base natural de operação.

Pode ser uma guerra perdida. Mas não quero ser radical e afirmar que não há saída. Haveria um caminho. O de conseguir secar a fonte de financiamento do tráfico no Brasil. Não sei a quanto monta esse financiamento mas certamente avança muito na conta dos milhões e entra nos bilhões de reais, se considerarmos todo o fluxo no país, a cada semana. Arma e drogas são coisas muito, muito caras.

E de onde vem este fabuloso financiamento? Vem dos compradores dos tóxicos.

E quem são esses compradores? São pessoas de classe média. Há, sim, consumidores pobres, mas são relativamente poucos e desses se diz “coitados”, porque acabam mortos.

E o grande contingente, muito mais de noventa por cento deste financiamento, vem da classe média, que imita os padrões de consumo dos países ricos, até mesmo no hábito da droga. Essa classe média que representa um terço ou mais da nossa população.

Grande parte dessa classe média não gosta do Brasil, não gosta do povo. A maioria quer morar em Miami.

O enorme financiamento desses consumidores de drogas ao crime organizado destrói a polícia, que tanto defende a classe média e muitas vezes espezinha e maltrata o pobre, suspeito por ser pobre.

O que fazer? Campanhas antidrogas ? . Com custos altos de marqueteiros?

Ou então, legalizar as drogas? Como fez o Uruguai, nosso vizinho querido, nação moralmente exemplar, que adotou a solução no caso da maconha , com resultados muito bons?

A questão tem que ser solucionada com urgência. Essa guerra não pode continuar.

* Ex-senador e escritor