'Ela e eu', de Gustavo Rosa de Moura, estreia nos cinemas na próxima quinta

MYRNA SILVEIRA BRANDÃO ( [email protected] )

O filme conta a história de Bia (Beltrão) que, no momento do nascimento de sua filha, entra em coma e desperta 20 anos depois. Esse acontecimento provoca uma mudança radical não só na vida dela, mas na de toda a família. Sua filha, Carol (Lara Tremouroux), já é adulta, e seu ex-marido, Carlos (Eduardo Moscovis), está casado com Renata (Mariana Lima). Acostumados com a rotina de cuidados com Bia em home care, todos terão de reaprender a conviver.

“Ela e eu” é um filme sobre adaptação diante de eventos inesperados e raros. A personagem é o ponto de partida para abordar as relações afetivas e a necessidade de, muitas vezes diante de dificuldades estremas, precisarmos nos reinventar ao longo da vida.

O filme teve um processo colaborativo intenso. Diretor e atores se encontraram diversas vezes para debater cenas, personagens e o rumo da história, até chegarem ao roteiro final. E mesmo durante as filmagens ajustaram algumas cenas na hora de rodar.

A estreia ocorreu em 2021 no 54º Festival de Brasília, onde recebeu três prêmios: melhor atriz (Andrea Beltrão), melhor ator (Eduardo Moscovis) e melhor roteiro (Gustavo Rosa de Moura, Andrea Beltrão e Leonardo Levis). Participou ainda do Festival do Rio (fora de competição) e do Festival de Vassouras, onde ganhou 5 prêmios: melhor filme, ator (Eduardo Moscovis), atriz coadjuvante (Mariana Lima), roteiro e som.

O diretor nasceu em São Paulo em 1975. Em 1999, formou-se arquiteto pela FAU-USP. Em 2003, morando no Rio de Janeiro, começou a trabalhar com audiovisual, dirigindo vídeos para museus, filmes experimentais e o longa-metragem de ficção “Canção da volta”.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, Gustavo revela como surgiu a ideia de realizar “Ela e eu”, explica a escolha da abordagem da trama e como conseguiu a sintonia com o público, já constatada em vários festivais.

 

JORNAL DO BRASIL - Como surgiu a ideia de realizar um filme que, entre outras abordagens, trata da necessidade de nos adaptarmos às mudanças da vida, às vezes drásticas como é o caso neste filme?

GUSTAVO ROSA DE MOURA – Essa ideia surgiu em 2015 num brainstorm que a gente tinha regularmente lá na produtora (Mira Filmes). A Carmen Maia, uma das produtoras do filme e minha sócia na época, falou da vontade de fazer um filme com uma protagonista de 50 anos e da relação dela com a filha. E aí tivemos essa ideia meio maluca, quase surreal, de uma pessoa entrar em coma durante o parto, passar boa parte da vida fora do mundo, nesse stand by, e depois voltar e encontrar uma filha que não viu crescer. A princípio era para ser uma comédia popular. Mas, com o passar do tempo, a gente mudou, o Brasil mudou e achamos que não cabia mais uma comédia. Além disso, fomos nos encantando pelas possibilidades dramáticas que esse argumento trazia, pelas relações afetivas e amorosas que poderiam brotar da história. Por fim, me atraiu muito também a possibilidade de falar da falta de controle que temos sobre as coisas, sobre a nossa própria vida, e da necessidade constante de nos adaptarmos a novas realidades. E a Andrea Beltrão foi absolutamente fundamental para o filme ter virado o que virou. Ela chegou lá no começo e nos ajudou muito a achar os caminhos. Foram anos de trabalho, em graus diferentes de intensidade, e o filme se tornou um drama com toques de humor.

Ao lado do tema central, faz também uma conexão importante ligada às relações afetivas, o sentido das coisas, enfim o sentido da vida. Poderia falar um pouco mais sobre essa abordagem?

“Ela e eu” é um filme que fala de cuidado, da importância de cuidarmos uns dos outros em momentos de dificuldade. Nesses tempos de cada um por si, de intolerância, de arma pra todo lado, de violência em todo canto, esse assunto me parece muito relevante. Mas também é uma história pra gente pensar sobre a nossa ilusão de controle, já que eventos muito maiores e muito fortes podem acontecer a qualquer momento e tirar nossas certezas do lugar. É um filme pra gente pensar no que realmente importa na nossa vida. É um filme que, de maneira inesperada, dialoga muito com o que estamos vivendo hoje. Acabamos de ser surpreendidos por uma pandemia e tivemos de nos adaptar, mudar a maneira de enxergar uma série de coisas, rever valores, conceitos, preconceitos. O filme lida com readaptação, com imprevisibilidade, com crise, com descoberta, com amor, com doença e também com a morte. Nesse sentido, acredito que ele, de alguma forma, ficou mais atual.

 

O filme tem tido uma grande identificação com os espectadores, como visto no Festival de Brasília, no Festival do Rio, de Vassouras. Foi difícil conseguir essa sintonia?

Sim! Fazer um filme é sempre algo muito difícil, e achar essa sintonia é um desafio constante. Quando a gente está fazendo o roteiro, filmando ou editando, a gente sempre tenta se colocar no lugar do espectador. Mas isso é bem complexo porque o nosso envolvimento com aquilo tudo é totalmente diferente (e difícil de ser neutralizado) e porque não existe um espectador (ideal ou modelo), existem tantos espectadores quanto existem indivíduos. Além disso, fazer um filme envolve muita gente, por muito tempo, e manter essa equipe toda em sintonia também é muito complexo. Daí, no final, a gente faz o melhor que pode, faz o filme que a gente acredita, e torce para o espectador (ou ao menos um número considerável de espectadores) se conectar com ele, ou seja, também ser tocado pelo que nos tocou.

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