‘A Terra negra dos Kawa’, de Sérgio Andrade, estreia em circuito nacional dia 20

MYRNA SILVEIRA BRANDÃO

O filme – que participou de vários eventos cinematográficos, entre eles a Mostra de São Paulo e o Festival do Rio – segue um grupo de cientistas que faz escavações em terrenos no interior do Amazonas em busca de uma terra preta fértil, usada para fins agrícolas. Conforme se aproximam do sítio dos indígenas Kawa, notam que a terra adquire poderes energéticos e sensoriais.

As filmagens aconteceram em locações da cidade de Manaus e nos arredores do município de Iranduba AM, a 39 km da capital, onde foi alugado um sítio que se tornou o “O Sítio dos Kawa”. Locações na pista do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, de Manaus, possibilitaram a inclusão de imagens de aviões abandonados, que adicionaram um componente ao clima do filme.

O ótimo elenco inclui Mariana Lima, Felipe Rocha, Marat Descartes e os Kawa, vividos por atores indígenas da mesma família – Severiano Kedassare, Emerlinda Yepario e os filhos Kay Sara e Anderson Kary-Bayá – da etnia dos Tarianos. O filme também apresenta atores indígenas das etnias Saterés, Tikuna e Tukanos. A produção é da Rio Tarumã Filmes e a distribuição é da Livres Filmes.

Nascido em Manaus, o diretor roteirista e produtor é realizador de vários curtas-metragens como “Um Rio entre nós” e “Cachoeira”, que receberam diversos prêmios e foram selecionados para os festivais de Brasília, Clermont-Ferrand, Tiradentes, Miami, Barcelona, entre outros. Seu primeiro longa-metragem, “A Floresta de Jonathas” (2012), esteve em festivais importantes como o do Rio, o de Rotterdam e o de Praga. “Antes o tempo não acabava”, seu segundo longa, estreou em Berlim em 2016 e foi premiado como melhor filme no Festival Queer Lisboa.

Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, Andrade falou sobre a motivação para ter realizado o filme, a importância do tema e sua expectativa de que ele contribua para a causa indígena.

 

JORNAL DO BRASIL - Qual a principal motivação que o levou a realizar “A Terra negra dos Kawa”?

SÉRGIO ANDRADE - Meu fascínio por cinema de ficção científica e minhas amizades com cientistas do Inpa ( Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia) que me fizeram conhecer as incríveis potencialidades da terra preta de índio e suas histórias de ancestralidade, de como o solo foi enriquecido de forma antrópica e tornou-se um tesouro para benefício dos povos.

 

Nos últimos anos, o assunto se tornou ainda mais relevante em face dos debates sobre a demarcação de terras indígenas e as ocupações ilegais. Poderia falar um pouco mais sobre isso?

No filme, o elemento terra torna-se uma metáfora muito concreta, entende-se através dele a importância da simbiose entre povos originários e natureza, terra que é responsável pelo alimento e pela saúde, mas que também beneficia a todos com sua energia telúrica e sensorial.

 

Tendo em vista todo o debate e reflexões que o filme suscita, quais contribuições você acha que “A Terra negra dos Kawa” trará para a causa indígena e mudanças desse quadro adverso?

A reflexão maior é que existe uma coexistência mais que possível entre os povos em relação aos seus territórios e o convívio com outras sociedades, mesmo com a proximidade do contexto urbano, o equilíbrio natural pode se disseminar se houver um planejamento que domine as ambições brancas e a natureza originária. Talvez seja isso os primeiros ditames da sustentabilidade.

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