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Debora Diniz participa de debate sobre o zika vírus na Fiocruz

Ela falará no painel “Zika, direitos humanos e mulheres” no próximo dia 19, às 14h

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Debora Diniz, antropóloga, pesquisadora e professora de bioética na Universidade de Brasília e na Fundação Oswaldo Cruz conta a história do descobrimento da zika e a de uma de suas mais trágicas consequências, a microcefalia em crianças nascidas de mães afetadas pelo vírus, em seu livro “Zika, do sertão nordestino à ameaça global” e participa do debate "Zika, direitos humanos e mulheres, no próximo dia 19, quarta-feira, às 14h, na Fiocruz.

Na cronologia oficial, o vírus zika foi identificado no Brasil em abril de 2015 e confirmado pelo Ministério da Saúde em 14 de maio do mesmo ano. Mas, ainda em dezembro de 2014, um médico infectologista de Alagoas percorria os sertões do estado tentando compreender os sintomas do que acreditava, a partir de um alerta do próprio ministério, ser a manifestação de outro vírus, o da chikungunya. Observando os pacientes, Dr. Celso Tavares começou a suspeitar de outra doença em circulação. Ele ainda não sabia, mas o que os nordestinos estavam tratando como “alergia medonha”, a partir de febre baixa, coceira no corpo e vermelhidão, que sumiam em poucos dias, era o zika. 

Para escrever a obra, Debora, que dirigiu também o documentário “Zika”, no qual aparecem muitos dos personagens do livro, passou temporadas em Campina Grande, onde acompanhou consultas, esteve em salas de espera, visitou pacientes no interior e participou de seminários. Ela pesquisou em artigos acadêmicos, que eram escassos no início do surto no Brasil, em veículos de notícias nacionais e internacionais e entrevistou médicos, cientistas e pacientes de Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A autora também participa de vários grupos de médicos e mães, que trocam suas experiências pelo aplicativo de mensagens WhatsApp, onde colhe importantes informações sobre o desenvolvimento dos casos.

O resultado é um livro que conta a história a partir do Nordeste, mostrando o trabalho extraordinário feito por médicos de “beira de leito”, médicas dedicadas e mães que, em rede e solidariedade, trocam informações sobre o desenvolvimento dos bebês, lutam pelos direitos de seus filhos e ajudam umas às outras a superar as adversidades. Em tempo recorde e com apuração rigorosa, Debora mostra como o zika revelou-se do sertão para o mundo. A obra traz depoimentos inéditos de uma italiana, Sofia Tezza, que contraiu zika durante uma estada no Rio Grande do Norte e fez o aborto do feto, com microcefalia, meses depois; e também do pai de dois gêmeos, um dos quais é considerado o “paciente zero” da microcefalia. O outro filho nasceu normal. Mas a mãe, que nunca deu entrevista, e o pai vivem sob o medo de o menino um dia ter alguma sequela do vírus.

Ao focar o seu trabalho na escuta de quem esteve no epicentro da epidemia, Debora expõe o preconceito sofrido por médicos do Nordeste e o incômodo de colegas do Sul, que sempre detiveram a hegemonia e a centralidade nos estudos e publicações científicas; a disputa da comunidade científica pelo marco zero das descobertas; além da desconfiança da comunidade internacional em relação ao Brasil. Em dado momento, o país foi acusado de não notificar de forma correta nem monitorar os casos de recém-nascidos com microcefalia, o que poderia provar a inexistência de sua vinculação com o zika.

Mas, o que sobressai na obra são as histórias de médicos como o já citado Celso Tavares e de seu parceiro Kleber Luz, que não acreditavam no resultado de exames de sangue que apontavam “dengue branda” e insistiram com laboratórios para ampliarem os testes para outros tipos de vírus. A médica Adriana Melo foi a primeira a conseguir fazer a associação entre o zika e a microcefalia ao retirar o líquido amniótico de duas pacientes grávidas e constatar que os fetos com microcefalia tinham sido atingidos pelo vírus. Entre outros, Debora ressalta também a história de nordestinos anônimos que, por estarem em lugares sem saneamento básico, com alta proliferação do mosquito transmissor e com atendimento precário em saúde, foram vítimas do vírus e sequer entraram para as estatísticas